Áudios revelam participação de militares em tentativa de golpe para manter Bolsonaro no poder, aponta PF
- Marcus Modesto
- 24 de fev.
- 3 min de leitura
A Polícia Federal (PF) divulgou áudios que revelam diálogos entre militares e aliados próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre uma tentativa de golpe de Estado. As gravações, exibidas pelo programa Fantástico, da TV Globo, indicam a participação direta de oficiais do Exército na incitação de manifestantes acampados em frente ao Quartel-General da Força, em Brasília, que culminou na invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Um dos áudios mais reveladores foi atribuído ao tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, que atuava no Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter). Na gravação, Almeida incentiva os manifestantes a se dirigirem ao Congresso Nacional, alegando que uma mobilização em massa impediria a ação da polícia:
“Eu acho que o pessoal poderia fazer essa descida. E ir atravancando mesmo. Porque a massa humana chegando lá, não tem PM que segure. Vai atropelar a grade e vai invadir. Depois não tira mais.”
O tenente-coronel está entre os 34 indiciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por tentativa de golpe e abolição violenta do Estado democrático de direito.
Outro diálogo compromete o general Mario Fernandes, então número 2 da Secretaria-Geral da Presidência. Nas mensagens, ele pede ajuda ao tenente-coronel Mauro Cid – ex-ajudante de ordens de Bolsonaro – para que o presidente interviesse em operações da PF contra os acampamentos.
“Se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça, para segurar a PF… Estou tentando agir diretamente junto às Forças, mas se tu pudesse pedir para o presidente ou para o gabinete do presidente atuar…”
Em outra gravação, Fernandes pressiona o general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice de Bolsonaro nas eleições de 2022, para intervir diretamente com o então ministro da Justiça, Anderson Torres:
“Se o senhor puder intervir junto ao presidente, falar com o ministro Anderson. Segurar a PF, para esse cumprimento de ordem. Ou com o Comandante do Exército, para a gente proteger esses caras ali.”
Fernandes ainda teria orientado seus interlocutores a “blindar” Bolsonaro contra qualquer tentativa de fazê-lo recuar:
“Kid preto, algumas fontes sinalizaram que o Comandante da Força foi ao Alvorada para sinalizar ao presidente que ele podia dar a ordem. Se o senhor está com o presidente agora e ouvir a tempo, blinda ele contra qualquer desestímulo. Isso é importante, kid preto. Força.”
A defesa de Fernandes negou qualquer envolvimento em conspirações e alegou que os áudios teriam sido editados e apresentados fora de contexto.
Outro áudio de destaque é de Mauro Cid, que firmou um acordo de delação premiada. Cid confirma que Bolsonaro teria editado uma minuta golpista:
“Ele entende as consequências do que pode acontecer. Hoje ele mexeu naquele decreto, ele reduziu bastante, fez algo mais direto, objetivo e curto. E limitado, né?”
A denúncia da PGR acusa Bolsonaro de crimes como organização criminosa armada, tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado democrático de direito e dano qualificado contra o patrimônio da União. As investigações apontam que o ex-presidente teria revisado pessoalmente uma minuta que previa a prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Segundo a PF, Bolsonaro teria solicitado a exclusão dos nomes de Gilmar e Pacheco do texto.
As investigações seguem em andamento, enquanto a defesa de Bolsonaro nega qualquer envolvimento em planos para desestabilizar o regime democrático no Brasil.

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