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Ódio como discurso: quando a barbárie tenta ocupar o plenário

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 10 de abr.
  • 2 min de leitura

Em um dos episódios mais lamentáveis da política brasileira recente, o deputado federal Gilvan da Federal (PL-ES) ultrapassou todos os limites da retórica ao afirmar publicamente, em uma comissão da Câmara dos Deputados, o desejo pela morte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A fala, além de repulsiva, representa um sintoma perigoso do ambiente de radicalização que se instalou em parte do Congresso — onde a violência verbal é usada como estratégia política, com o objetivo de mobilizar cliques, seguidores e militantes sedentos por confronto.


Não se trata de mera “exagero de linguagem”, como depois tentou justificar o próprio deputado em sua meia-retratação. Trata-se de incitação ao ódio, de desumanização do adversário político, e, mais grave, da normalização de uma postura incompatível com qualquer cargo público, sobretudo o de representante do povo. Quando um parlamentar utiliza o microfone oficial da República para desejar a morte de outro ser humano — seja ele quem for —, ele agride não apenas a vítima de sua fala, mas o próprio princípio democrático.


A resposta institucional, embora imediata, precisa ir além de notas de repúdio. A abertura de investigação pela Polícia Federal, a pedido da AGU, é um passo necessário, mas a sociedade deve cobrar do Congresso atitudes concretas. Não é razoável que um representante eleito continue com prerrogativas plenas após manifestar, em rede nacional, um pensamento que flerta com a apologia ao crime. A imunidade parlamentar não pode ser escudo para a barbárie.


Até aliados tradicionais, como o senador Flávio Bolsonaro, se apressaram em condenar a declaração. Mas é preciso lembrar que o próprio ambiente que permitiu que figuras como Gilvan prosperassem politicamente foi alimentado por anos de discursos radicais, de ataques às instituições e de desprezo à convivência democrática. O monstro agora morde a mão que o criou.


É urgente que a política brasileira reencontre o caminho da civilidade. Discordar é natural e até saudável numa democracia. Mas desejar a morte do outro não é opinião — é perversão. E quem a profere, por mais que depois tente pedir desculpas, já revelou muito mais do que gostaria sobre o tipo de país que pretende construir.



 
 
 

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