A Articulação Política no Congresso: Um Jogo de Poder e Interesses
- Marcus Modesto
- 4 de fev.
- 2 min de leitura
Política:
A declaração do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), sobre o potencial de Arthur Lira (PP-AL) para comandar a articulação política entre o governo e o Congresso evidencia mais um capítulo do intrincado jogo de poder em Brasília. A possível nomeação de Lira para um cargo ministerial na gestão do presidente Lula (PT) não é apenas uma questão de competência política, mas sim de influência e controle sobre o legislativo.
Lira, que presidiu a Câmara nos últimos anos, consolidou um poder inquestionável dentro da Casa, sendo peça-chave na governabilidade de diferentes gestões. Sua influência é tamanha que, mesmo sem ocupar um cargo no governo federal, continua sendo um dos principais articuladores de votações e negociações no parlamento. A afirmação de Motta de que Lira “tem um grande relacionamento na Casa como ninguém” não é exagero, mas também levanta um alerta sobre a centralização de poder nas mãos de poucos.
O Ministério das Relações Institucionais, hoje liderado por Alexandre Padilha, deveria ser o responsável por essa ponte entre o Executivo e o Congresso. No entanto, a relação conturbada entre Padilha e Lira tem enfraquecido a capacidade do governo de coordenar sua base de apoio, resultando em dificuldades na aprovação de pautas prioritárias. Diante disso, a possibilidade de Lira assumir um cargo no governo não parece ser uma questão de mérito, mas sim de necessidade para manter a estabilidade política.
O problema é que essa lógica reforça a velha prática do toma-lá-dá-cá, onde cargos ministeriais são usados como moeda de troca para garantir apoio no Congresso. A governabilidade não deveria depender exclusivamente de figuras como Lira, mas sim de uma estrutura política mais transparente e democrática. A nomeação do ex-presidente da Câmara para um ministério pode até resolver momentaneamente o problema de articulação do governo, mas reforça o sistema de barganhas que mantém Brasília refém dos interesses de grupos políticos específicos.
A questão que fica é: até quando o Brasil aceitará que o funcionamento do Congresso dependa da vontade e do poder de articulação de poucos nomes? Se a governabilidade precisa de um único articulador para funcionar, talvez o problema esteja na forma como a política é conduzida – e não apenas nos nomes que ocupam os cargos.

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