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A Cracolândia no Rio: A Realidade Desoladora do Maracanã, Mangueira e Benfica

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 17 de mar.
  • 3 min de leitura

Na Avenida Bartolomeu de Gusmão, próxima à entrada da estação Maracanã do metrô, o cenário é desolador. Às 10h20, um homem com o olhar perdido caminha descalço pela pista, desviando-se dos carros, que buzinam impacientes. Na calçada, outro homem monta uma barraca improvisada com plástico e pedaços de madeira, oferecendo cachaça, cigarros e copos vazios para que usuários de drogas possam se abastecer. Uma fila de pessoas em situação de rua se forma, aguardando a abertura da banca. Marcas de um incêndio recente ainda são visíveis no muro ao lado do ponto de ônibus, vestígios de objetos queimados durante a madrugada. Neste cenário, pedestres apressam o passo, enquanto outros desistem de esperar o transporte público por medo.


Essas cenas não são exceção, mas o retrato diário de uma triste rotina que tem se intensificado no Maracanã, na Mangueira e em Benfica, bairros marcados pela crescente ocupação de usuários de drogas, criando verdadeiras cracolândias. A Avenida Visconde de Niterói, importante via que corta esses locais, tornou-se um ponto crítico. Barracas feitas de tapumes ocupam parte das calçadas e, em alguns casos, até a pista, obstruindo o trânsito e colocando pedestres e motoristas em risco constante.


— Foi por pouco que não atropelei um homem outro dia. Ele simplesmente surgiu na frente do carro, cambaleando — relata o motorista Marcos Souza, de 45 anos. — Eu ainda buzinei e ele se virou com uma garrafa na mão, gritando. O trânsito está um caos, e ainda temos que lidar com isso.


A situação vai além do tráfego. Motoristas relatam tentativas de abordagens agressivas por parte dos usuários de drogas. Juliana Campos, motorista de aplicativo, lembra de uma situação angustiante no Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman, na Mangueira:


— Outro dia, uma mulher entrou no meu carro à força enquanto eu esperava o sinal abrir. Ela estava em surto, segurando um copo e um isqueiro, e ameaçava me bater. Eu tive que arrancar com o carro. Era por volta de 19h e não havia policiamento.


Ao lado da cracolândia, funciona um ponto de apoio do Programa de Acompanhamento de Rua (PAR). Mesmo com a presença de agentes da prefeitura, a situação parece fora de controle. O crescimento desordenado do uso de drogas transformou essas regiões em zonas de medo e insegurança. Comerciantes têm registrado prejuízos e muitas pessoas desistem de circular pelos bairros.


— Parece que a gente foi esquecido aqui. O poder público só aparece para limpar depois de uma confusão grande — desabafa a comerciante Andreia Ferreira.


O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, criticou a falta de ação eficaz no combate ao tráfico de crack na cidade, destacando o impacto devastador da droga sobre a população em situação de rua e dependente química.


— Os pontos de venda de crack não recebem a repressão necessária. Há muita gente ganhando dinheiro com isso — afirmou o secretário, lembrando que o crack não é produzido no Rio, mas chega à cidade por rotas de tráfico já conhecidas pela polícia. — Não adianta prender o pequeno traficante se não houver inteligência policial para investigar como a droga chega ao Rio. É uma situação grave e muito crítica. Tem que ter um trabalho de prevenção da venda da droga porque, senão, o sistema de saúde não vai conseguir dar conta.


De acordo com fontes da polícia, muitos usuários compram as drogas a preços baixos — o crack pode ser adquirido por R$ 5 na Mangueira. Para sustentar o vício, muitos recorrem a furtos, roubos e até a troca de materiais de valor (como fios de cobre) por entorpecentes. Esse ciclo alimenta a insegurança, tornando as regiões ainda mais perigosas para moradores e trabalhadores.


— Está cada vez mais difícil morar aqui. Temos que lidar com a violência, o abuso dos traficantes e também com as pessoas que ficam alucinadas com a droga. Todos os dias, desço a Mangueira para levar meu filho à escola e espero no ponto ao lado do metrô do Maracanã com apreensão. Uma vez, um deles chegou a jogar pedra na gente porque nos recusamos a dar dinheiro. Foi horrível — conta uma moradora.


Em Benfica, a situação é igualmente alarmante. Perto do muro da Rio Luz, que fica próximo ao Mercado Municipal do Rio (Cadeg), usuários de drogas se aglomeram entre pilhas de lixo e fogueiras. Eles montaram uma cracolândia em meio a lava-jatos irregulares, tornando a área praticamente intransitável. Funcionários da Comlurb e da Prefeitura são obrigados a transitar pelo local, muitas vezes sem poder fazer nada diante do ambiente hostil.




 
 
 

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