A pedagogia da violência
- Marcus Modesto
- 8 de fev.
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Marcus Modesto
“Eu quero a sua exoneração!” – A frase cortou o ar como um raio, lançada com força por Auricélia Arapium, liderança indígena, diante do secretário de Educação do Pará, Rossieli Soares. O auditório da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), em Belém, tremeu. Não era só um protesto. Era um grito de revolta contra um governo que, sob a justificativa de modernização, desmonta a educação pública e apaga identidades.
No centro do conflito, a Lei 10.820, aprovada no apagar das luzes de 2024, desmantelou programas de ensino em comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas e do campo, cortou salários de professores e abriu as portas para um ensino a distância precarizado. Um decreto que, na prática, joga milhares de estudantes em um limbo educacional, enquanto o governo festeja números duvidosos do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
A cena em Belém foi simbólica: um governo que prioriza telas e satélites de Elon Musk em vez de professores em sala de aula, e que responde a professores e indígenas com gás de pimenta e cavalaria.
A farsa dos números
Nos meses anteriores, Helder Barbalho e Rossieli Soares comemoravam o avanço do Pará no Ideb – da 20ª para a 6ª posição. O que não disseram é que esses números foram inflados com aprovações automáticas e flexibilização de critérios, enquanto os professores eram sistematicamente desvalorizados.
O ensino modular, que levava educação presencial a áreas isoladas, foi substituído por uma promessa tecnológica vazia: televisores e Starlink no lugar de professores. Para comunidades onde a internet mal chega e onde o aprendizado se dá pela oralidade e pela vivência, o resultado não será progresso, mas exclusão.
A repressão como método pedagógico
Desde o início da ocupação da Seduc, o Estado respondeu com a única pedagogia que parece dominar: a da repressão.
• Policiais fortemente armados jogavam spray de pimenta nos banheiros para sufocar os ocupantes.
• Impediram a entrada de comida e doações.
• Assediaram mulheres indígenas, iluminando seus banhos com lanternas.
• Barraram a imprensa.
• Usaram fake news e bots para tentar virar a opinião pública contra os manifestantes.
No fim, Rossieli Soares, escoltado pelo procurador Ricardo Seffer, tentou um discurso de conciliação. Mas já era tarde. O governo havia dado seu recado com cassetetes e gás lacrimogêneo. E Auricélia Arapium respondeu à altura: “Eu quero a sua exoneração.”
Se há algo que essa ocupação ensina, é que a educação só morre quando não há mais quem lute por ela. E em Belém, a luta está longe de acabar.

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