A profecia de Nostradamus e o “papa negro”: entre simbolismo e especulação
- Marcus Modesto
- 21 de abr.
- 2 min de leitura
A morte do papa Francisco reacendeu o interesse por antigas profecias e especulações sobre o futuro da Igreja Católica. Entre elas, uma das mais comentadas é a suposta previsão de Michel de Nostradamus, médico e astrólogo francês do século XVI, sobre a chegada de um “papa negro”, que, segundo interpretações populares, marcaria o fim da Igreja ou uma grande transformação espiritual no mundo.
Apesar de não haver menção literal a um “papa negro” nos escritos originais de Nostradamus, algumas de suas quadras são frequentemente citadas de forma livre e subjetiva, alimentando teorias conspiratórias. Uma das mais evocadas fala de um “líder vestido de preto” que governaria durante tempos sombrios e seria associado à queda de instituições tradicionais.
Especialistas em literatura apocalíptica alertam, no entanto, para o uso indevido dessas previsões. “As quadras de Nostradamus são extremamente ambíguas, escritas com linguagem simbólica e abertas a múltiplas interpretações”, afirma o historiador francês Jean-François Duchêne, autor de uma pesquisa sobre o imaginário profético no Ocidente.
A origem do mito do “papa negro”
O mito do “papa negro” também tem raízes fora de Nostradamus. Dentro da tradição católica, há uma figura que carrega esse título de forma simbólica: o superior-geral da Companhia de Jesus, ordem à qual pertencia o papa Francisco. Conhecido informalmente como “papa negro” por usar batina escura e liderar uma das mais influentes ordens da Igreja, ele exerce grande poder, mas sem relação com o pontificado.
Essa coincidência reforçou interpretações de que Francisco, o primeiro jesuíta a se tornar papa, seria o cumprimento da tal profecia. Outros chegaram a associar o termo à possibilidade da eleição de um papa de origem africana, algo inédito na história recente da Igreja, mas possível diante da crescente representatividade de cardeais africanos no colégio eleitoral.
Entre a fé e o folclore
Com a proximidade de um novo conclave, alimentado pelo vácuo de liderança após o falecimento de Francisco, profecias como as de Nostradamus voltam a ganhar destaque nas redes sociais e em grupos religiosos. Contudo, teólogos e estudiosos pedem cautela ao lidar com previsões apocalípticas.
“Profecias são parte do imaginário humano, especialmente em tempos de transição. Mas não devem substituir o discernimento e a responsabilidade que o momento exige da Igreja”, resume o padre e teólogo brasileiro Antônio Barros.
O próximo papa, seja ele africano, latino-americano, europeu ou asiático, terá o desafio de continuar um processo de renovação em uma das instituições mais antigas do mundo. E, como sempre, deverá lidar não apenas com os desafios do presente — mas também com os mitos do passado.
Robert Sarah seria primeiro papa negro

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