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A tragédia em Caxemira e a narrativa de controle em xeque

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 22 de abr.
  • 2 min de leitura

O massacre de turistas ocorrido em Pahalgam, na disputada região da Caxemira, é mais do que uma tragédia isolada — é uma ferida exposta em uma das regiões mais tensas do planeta, cujo histórico de conflitos parece imune ao tempo e à diplomacia. Vinte e quatro mortos. Vários feridos. E um silêncio constrangedor sobre a real situação de segurança sob o controle indiano.


A reação do primeiro-ministro Narendra Modi, classificando o atentado como um “ato hediondo”, era esperada. Mas o discurso padrão da condenação já não convence como antes. A promessa de “justiça” esbarra em uma realidade dura: a insistência de Nova Délhi em promover a Caxemira como um destino turístico seguro contrasta brutalmente com o banho de sangue de domingo.


Há um esforço notável do governo indiano em criar uma imagem de normalidade na Caxemira desde a revogação do artigo 370 da constituição indiana, em 2019 — uma medida que acabou com a autonomia da região e acirrou ainda mais os ânimos locais. Desde então, os investimentos em turismo aumentaram, os resorts se multiplicaram e os slogans de paz passaram a decorar as campanhas de promoção. Mas nenhum marketing consegue esconder os sons dos tiros.


O atentado, ainda sem autoria assumida, reacende a tensão diplomática entre Índia e Paquistão, países armados até os dentes e com um histórico de guerras. Nova Délhi culpa Islamabad por alimentar a insurgência. O Paquistão, por sua vez, sustenta o discurso da autodeterminação. No meio disso, estão os civis — agora também turistas — transformados em alvos da disputa territorial e ideológica.


O episódio também lança dúvidas sobre o real preparo das forças de segurança indianas para proteger civis em áreas de risco conhecido. Se nem os visitantes conseguem estar a salvo em uma zona promovida como “pacificada”, o que dizer dos próprios caxemires?


Enquanto os números do turismo impressionam — 3,5 milhões de visitantes apenas em 2024 — a pergunta que fica é: a que custo? É possível construir uma indústria turística sobre um território ainda em conflito aberto, onde a paz é mais um desejo do que uma realidade?


O ataque de Pahalgam expõe o que muitos preferem ignorar: a Caxemira continua sendo uma ferida aberta na geopolítica do sul asiático. E por mais que se tente encobrir com panos coloridos de propaganda, tragédias como esta sempre.



 
 
 

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