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Armas no Congresso: ostentação armamentista de deputado fere protocolos e escancara normalização da truculência política

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 2 de mai.
  • 2 min de leitura

Episódio protagonizado por Delegado Caveira e vereador de Belém expõe brechas na segurança da Câmara e eleva o tom da radicalização armamentista no Parlamento.


A Câmara dos Deputados, espaço que simboliza a democracia representativa brasileira, foi palco nesta semana de um episódio alarmante: o deputado federal Getúlio Barbosa, conhecido como Delegado Caveira (PL-PA), posou armado com um fuzil e uma pistola em seu gabinete, ao lado do vereador Zezinho Lima (PL), de Belém, que também empunhava armamento pesado. As fotos foram divulgadas nas redes sociais e repercutidas nacionalmente após publicação da coluna Radar, da revista Veja, nesta sexta-feira (2).


As imagens, que em qualquer outro contexto poderiam remeter a ambientes de confronto ou guerra, foram celebradas por seus protagonistas como um ato político. “Somos armamentistas”, declarou Zezinho, em tom de provocação, ao defender o porte de armas para o “cidadão de bem”. O problema: as armas eram reais, pertencentes ao deputado, e sua entrada na sede do Legislativo federal ignorou completamente os rígidos protocolos de segurança da Casa — que, ao menos oficialmente, ainda não se manifestou.


Mais que um episódio isolado, a cena escancara o avanço de uma retórica violenta e militarizada no espaço que deveria ser reservado ao debate de ideias e à produção de leis. Não se trata apenas de apologia ao armamento, mas da encenação deliberada de poder e intimidação simbólica dentro do coração da democracia brasileira.


Embora policiais civis tenham direito ao porte de armas, as normas internas da Câmara restringem a exibição ostensiva em áreas com grande circulação de pessoas. A prática, no entanto, parece ter sido ignorada ou até tolerada nos bastidores. A ausência de fiscalização ou sanção até o momento levanta questionamentos sobre o funcionamento do sistema de controle da Casa e o silêncio institucional frente à afronta às suas próprias regras.


Delegado Caveira, ex-policial militar e delegado civil no Pará, é figura conhecida da chamada “Bancada da Bala” e defensor de pautas radicais como a pena de morte, inconstitucional no Brasil. Sua trajetória, marcada por discursos de endurecimento penal e soluções de força, reflete o perfil de uma parcela do Congresso que transforma a defesa de armamento em plataforma ideológica e instrumento de marketing político.


O que está em jogo, porém, vai além da polêmica de ocasião. O gesto protagonizado por Caveira e Zezinho Lima é mais uma peça na escalada de atitudes autoritárias, de desafio às instituições e de banalização da violência como linguagem política. Se o Parlamento se curva a esse tipo de provocação, abre-se um perigoso precedente: o da intimidação como estratégia de ocupação do espaço democrático.


O Brasil precisa decidir se aceitará calado que seus representantes troquem o diálogo pela ameaça velada, e o respeito pelas regras pelo espetáculo do fuzil. O silêncio da Câmara diante do caso pode custar caro — não apenas à segurança física do Legislativo, mas à integridade da democracia.


 
 
 

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