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Atentou contra a democracia, mas vive livre: o escárnio da Justiça brasileira

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 1 de jun.
  • 2 min de leitura

Mesmo depois de planejar um atentado terrorista de grandes proporções, o empresário bolsonarista George Washington de Sousa vive hoje em liberdade, sem tornozeleira eletrônica e com emprego formal. Isso mesmo: o homem que tentou explodir um caminhão-tanque nas proximidades do Aeroporto Internacional de Brasília, às vésperas da posse do presidente Lula, circula livremente, autorizado pela Justiça a até viajar pelo país. Um tapa na cara da democracia e um recado claro: no Brasil, terrorismo de extrema direita parece ter desconto.


George foi preso em flagrante em dezembro de 2022 com um verdadeiro arsenal de guerra — fuzis, pistolas, munições e explosivos. Não era um ato isolado. Ele fazia parte da horda golpista que acampava diante do Quartel-General do Exército, esperando o rompimento da ordem constitucional e a instalação de um regime autoritário. Seu plano? Detonar uma bomba no aeroporto de Brasília para semear o caos e, assim, inviabilizar a posse presidencial.


O que seria tratado como crime hediondo em qualquer país sério, aqui virou quase que um mal-entendido. Bastaram alguns livros lidos, cursos de ressocialização e um emprego como auxiliar administrativo em um laboratório para que a Justiça o premiasse com progressão de pena. E mais: sem qualquer monitoramento eletrônico.


Como se não bastasse o absurdo da liberdade sem tornozeleira, ele agora pode viajar. Na próxima semana, George vai a Belém, autorizado pelo próprio Judiciário. Um privilégio que raramente se vê concedido a autores de crimes comuns, muito menos a quem tentou cometer um ato terrorista com potencial de matar dezenas de pessoas.


O cinismo do processo atinge níveis grotescos quando se descobre que quem o acolheu foi uma senhora de 74 anos, movida por afinidade ideológica. Não o conhecia, nunca tinham se visto. Mas, unidos pela crença golpista, selaram uma parceria para burlar os limites que qualquer sociedade decente deveria impor a criminosos desse porte.


A ministra Gleisi Hoffmann, uma das poucas vozes a se indignar publicamente, foi precisa: “proteção institucional a golpistas”. E está certíssima. O que se vê é uma parcela do Judiciário e do sistema de Justiça abrindo as portas para quem atentou contra a democracia, oferecendo conforto, reinserção e liberdade, como se o que George fez fosse um simples desvio de conduta, e não uma tentativa covarde de implodir o Estado de Direito.


A complacência com o terrorismo de extrema direita não é coincidência — é projeto. Enquanto isso, pretos, pobres e periféricos apodrecem nas cadeias por crimes muito menos graves. Fica escancarado que, no Brasil, o peso da lei depende de quem é o réu — e, sobretudo, de que lado ele está na guerra política.


É impossível não perguntar: se fosse um militante de esquerda, um indígena, um jovem da favela com explosivos no carro, qual teria sido o destino? Certamente, não estaria agora viajando, sem tornozeleira, batendo ponto em um emprego.


O caso de George Washington de Sousa não é só um escândalo jurídico. É uma mancha no Judiciário. É a prova viva de que parte do sistema ainda flerta, protege e se solidariza com quem tentou destruir a democracia brasileira.



 
 
 

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