Bolsonaro e o estímulo ao caos: como o ex-presidente alimentou o golpe que não aconteceu
- Marcus Modesto
- 19 de fev.
- 2 min de leitura
A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas por tentativa de golpe de Estado em 2022 expõe de forma incontestável o papel do ex-presidente na promoção da ruptura institucional. Bolsonaro não apenas permitiu, mas estimulou deliberadamente a mobilização de seus apoiadores em frente a quartéis-generais, mantendo viva a esperança de uma intervenção militar que nunca veio.
O documento da PGR destaca que o então presidente insistia na tese de que algo aconteceria para levar as Forças Armadas a aderirem ao golpe. Segundo o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, essa estratégia foi deliberada: manter a ilusão para que os quartéis servissem como ponto de pressão.
Mais do que simples omissão, Bolsonaro garantiu que as manifestações fossem mantidas, com o apoio de generais e ex-ministros como Walter Braga Netto, seu braço direito no plano. A denúncia revela que os comandantes das três Forças Armadas assinaram um documento autorizando a permanência dos acampamentos golpistas por ordem direta do então presidente.
Braga Netto, segundo Cid, era uma peça-chave na engrenagem da conspiração. O ex-ministro e general do Exército chegou a discursar para manifestantes diante de um quartel, garantindo que “algo ainda iria acontecer”. Essa retórica incendiária não apenas legitimava os protestos, mas reforçava a narrativa da fraude eleitoral, criando um ambiente de tensão permanente.
O golpe sem tanques, mas com propaganda e ameaça
A tentativa de golpe não se deu pelos meios clássicos – sem tanques nas ruas nem pronunciamentos oficiais. O golpe de Bolsonaro foi construído na base da desinformação, da manipulação e da chantagem institucional. O plano consistia em enfraquecer as instituições por meio de ataques constantes às urnas eletrônicas, ao STF e ao sistema eleitoral, enquanto seus aliados mantinham a pressão nos quartéis e nas redes sociais.
A denúncia da PGR revela que Bolsonaro tinha um núcleo de aliados dispostos a tudo para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Além de militares de alto escalão, o ex-presidente contava com a participação ativa de assessores e estrategistas políticos para espalhar a narrativa golpista e criar um ambiente de instabilidade que justificasse uma eventual ação militar.
O plano fracassou quando ficou claro que as Forças Armadas não embarcariam na aventura. No entanto, a tentativa de golpe não pode ser minimizada, pois o que se viu foi uma ação coordenada, que incluiu ataques diretos à democracia e colocou o país à beira de uma ruptura institucional.
Agora, com a denúncia formalizada, o STF terá a missão de julgar os responsáveis por esse projeto criminoso. Bolsonaro, que se vendeu como um defensor da liberdade e da pátria, será lembrado como o presidente que tentou destruir a democracia brasileira – e falhou.
Foto Agência Brasil/ Marcello Casal




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