Brasil encerra 2024 com mais de 9 milhões de analfabetos e não cumpre meta do Plano Nacional de Educação
- Marcus Modesto
- 13 de jun.
- 3 min de leitura
O Brasil chegou ao fim de 2024 com 9,1 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler nem escrever, segundo dados da Pnad Contínua Educação, divulgados nesta sexta-feira (13) pelo IBGE. O número representa 5,3% da população nessa faixa etária e evidencia o descumprimento de uma das principais metas do Plano Nacional de Educação (PNE): erradicar o analfabetismo até o fim deste ano.
Apesar da queda de 1,4 ponto percentual na taxa de analfabetismo desde 2016 — quando era de 6,7% — o país alcançou apenas parte da Meta 9 do PNE, que previa redução para 6,5% até 2015. O objetivo mais ambicioso, de zerar o analfabetismo até 2024, não foi atingido.
Nordeste concentra maioria dos analfabetos
A região Nordeste continua sendo a mais afetada, com 5,1 milhões de analfabetos, o que representa mais da metade (55,6%) do total nacional. Em seguida, aparece o Sudeste, com 2,1 milhões de pessoas (22,5%). As demais regiões apresentam percentuais menores, mas ainda expressivos.
A questão também tem forte recorte etário: mais da metade dos analfabetos brasileiros têm 60 anos ou mais — são 5,1 milhões de pessoas, com uma taxa de 14,9% nessa faixa. Entre os que têm 40 anos ou mais, o índice é de 9,1%. A taxa cai gradualmente entre os mais jovens, mas ainda afeta 5,3% da população com 15 anos ou mais.
Desigualdades de raça e gênero
O levantamento do IBGE também reforça as desigualdades históricas que marcam o acesso à educação no país. A taxa de analfabetismo entre pretos ou pardos (6,9%) é mais que o dobro da registrada entre brancos (3,1%). Entre os idosos, essa distância aumenta: 21,8% dos pretos ou pardos com 60 anos ou mais são analfabetos, contra 8,1% entre brancos.
Apesar das mulheres apresentarem taxa geral de analfabetismo levemente menor (5,0%) do que os homens (5,6%), entre os idosos a diferença se inverte: 15,0% das mulheres com mais de 60 anos são analfabetas, ante 14,7% dos homens. Segundo o IBGE, no entanto, essa diferença é uma das menores já registradas, indicando tendência de equilíbrio entre os gêneros.
Escolaridade ainda reflete exclusões históricas
Em 2024, 56% da população com 25 anos ou mais havia completado ao menos o ensino médio. Apesar do avanço — em 2022 esse número era de 29,9% — uma parcela expressiva da população adulta ainda tem baixa escolaridade:
• 5,5% não possuem nenhuma instrução;
• 26,2% não completaram o ensino fundamental;
• 7,4% completaram o fundamental;
• 4,9% interromperam no ensino médio.
As mulheres continuam mais escolarizadas que os homens: 57,8% delas concluíram a educação básica obrigatória, frente a 54,0% entre os homens.
A diferença racial também permanece evidente. Apenas 50% dos pretos ou pardos haviam concluído o ensino básico, enquanto entre os brancos o percentual chega a 63,4% — uma diferença de 13,4 pontos percentuais, praticamente a mesma registrada em 2023.
Um desafio que persiste
A média nacional de anos de estudo entre adultos subiu para 10,1 anos em 2024. As mulheres têm 10,3 anos de estudo, contra 9,9 anos dos homens. Entre os brancos, a média é de 11 anos; entre pretos ou pardos, 9,4 anos. A diferença vem diminuindo, mas ainda revela uma herança estrutural de exclusão educacional.
Os dados divulgados pelo IBGE deixam claro que, embora o Brasil tenha feito avanços, o país falhou em erradicar o analfabetismo como previa o Plano Nacional de Educação. A meta não cumprida expõe a urgência de políticas públicas mais eficazes, com recorte regional, racial e etário, capazes de enfrentar um dos problemas mais persistentes da história brasileira.




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