Cadernos de operador revelam esquema bilionário de fraudes contra aposentados no INSS
- Marcus Modesto
- 6 de mai.
- 2 min de leitura
Anotações feitas à mão em 20 cadernos grandes, de brochura e capa dura, podem ser a chave para desmantelar um dos maiores esquemas de fraude já descobertos contra beneficiários da Previdência Social no Brasil. O material foi encontrado pela Polícia Federal no escritório de Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, apontado como operador financeiro central da quadrilha que desviou bilhões de reais de aposentados e pensionistas desde 2019.
Os cadernos eram preenchidos diariamente pela secretária de Antunes e trazem registros detalhados de movimentações financeiras, nomes de envolvidos, datas de encontros e percentuais de propina. Para os investigadores, os documentos funcionam como um “mapa” do esquema, ligando diretamente o operador a servidores públicos de alto escalão, incluindo o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e o procurador-geral do órgão, Virgílio Oliveira Filho — ambos afastados das funções por decisão judicial.
Em uma das anotações, aparecem os nomes “Virgilio 5%” e “Stefa 5%”, que a PF interpreta como registros de repasses ilegais. Segundo as investigações, mais de R$ 17 milhões foram transferidos a ex-diretores do INSS e pessoas ligadas a eles, valores que teriam origem em entidades de fachada e empresas conveniadas com o instituto.
A dimensão da fraude é estarrecedora. A Polícia Federal estima que cerca de R$ 6,3 bilhões foram desviados em autorizações indevidas para descontos mensais nos benefícios de aproximadamente 4 milhões de aposentados. Esses descontos, que deveriam ser destinados a seguros e serviços voltados ao público idoso, foram sistematicamente apropriados pelo grupo.
Antunes, que nunca fez parte do quadro do INSS, levava uma vida de luxo. Ele é dono de ao menos 12 carros de alto padrão, como Porsche e BMW, e adquiriu uma mansão no Lago Sul, área nobre de Brasília, por R$ 3,3 milhões pagos à vista. Também é ligado a empresas registradas em paraísos fiscais, como as Ilhas Virgens Britânicas, e aparece como sócio de diversas firmas de fachada criadas, segundo a PF, para lavar e esconder patrimônio.
Apesar da gravidade das acusações, a defesa de Antunes nega qualquer envolvimento com o esquema. Em nota, os advogados afirmaram que “a inocência será comprovada” no decorrer do processo e que “confiam na atuação das instituições do Estado Democrático de Direito”.
A investigação segue em curso, e os cadernos apreendidos seguem sendo minuciosamente analisados. Para os agentes, o material pode fornecer a trilha definitiva para alcançar todos os integrantes do grupo criminoso e expor como um sistema montado para proteger os mais vulneráveis foi explorado com voracidade para enriquecer uma rede corrupta.

Comments