Caminhando sozinha de fralda: a criança que expôs o abandono que fingimos não ver
- Marcus Modesto
- há 3 dias
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Uma menina de apenas 3 anos, descalça e usando apenas uma fralda, caminhava sozinha pelas ruas de Santo André na manhã de domingo. Perdida, chorando e chamando pela mãe, ela foi flagrada por câmeras de segurança e socorrida por funcionários da Enel, chocados com a cena. A mãe, de 19 anos, havia deixado a filha dormindo sozinha em casa para ir a um baile funk.
O caso é estarrecedor, mas infelizmente, não é isolado. A jovem foi presa em flagrante por abandono de incapaz e, segundo o boletim de ocorrência, já havia reincidido nesse tipo de comportamento. A própria avó da criança confirmou aos policiais que outras situações semelhantes já haviam ocorrido — e que a família, inclusive, já havia procurado o Conselho Tutelar, que também reconheceu outras denúncias contra a mãe.
A criança agora está sob os cuidados do serviço municipal de acolhimento, e o caso tramita sob sigilo. Mas o que precisa ficar claro é que o sigilo processual não pode servir de manto para o silêncio social. Os dados da própria Prefeitura de Santo André mostram que, apenas nos três primeiros meses deste ano, foram 25 casos semelhantes. Em 2024, já são mais de 330 registros de abandono e negligência infantil na cidade.
Quantas crianças andam sozinhas — simbólica ou literalmente — pelas ruas invisíveis da negligência e da omissão? Até quando a sociedade aceitará que casos como esse se repitam, tratados como fatalidades isoladas, quando são sintomas de um colapso no cuidado básico com a infância?
Essa menina, que aos 3 anos já conheceu a solidão das ruas antes mesmo de entender o mundo, não é exceção. É alerta. É denúncia viva de um sistema de proteção falho, de laços familiares desfeitos e de uma estrutura social que falha em proteger quem mais precisa.
É hora de parar de se chocar apenas com as imagens. E começar a agir.

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