Centralizar não é solução: o risco de um megacomplexo de saúde em Barra Mansa
- Marcus Modesto
- 24 de mar.
- 3 min de leitura
O anúncio do prefeito Luiz Furlani sobre a criação de um megacomplexo de saúde anexo à Prefeitura de Barra Mansa levanta questões importantes sobre a eficiência e a acessibilidade do sistema de saúde municipal. A proposta de concentrar serviços essenciais como a UPA, o Centro de Especialidades Médicas (CEM), o Centro de Odontologia, o Serviço de Atendimento Domiciliar (SAD) e um Centro de Vacinação em um único local pode, à primeira vista, parecer uma solução moderna e integrada. No entanto, na prática, essa centralização extrema traz consigo um risco claro: a dificuldade de acesso para grande parte da população e o risco de sobrecarregar um único ponto da cidade.
A saúde precisa estar onde o povo está
Um dos principais problemas da proposta é o fato de que a saúde pública, para ser eficiente, precisa estar próxima da população. Concentrar serviços em um único ponto da cidade ignora a realidade de moradores de bairros periféricos, que terão que enfrentar deslocamentos mais longos e caros para conseguir atendimento. Como ficará o morador do Boa Vista, do Vista Alegre ou do Vila Maria, que precisa de atendimento odontológico ou de uma vacina?
Atualmente, a descentralização de serviços como as Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) e a presença de núcleos específicos em diversos bairros garantem que o atendimento chegue a quem mais precisa, sem a necessidade de atravessar a cidade. Ao transferir serviços essenciais para uma região central, o governo municipal ignora as dificuldades de locomoção de idosos, pessoas com deficiência ou em situação de vulnerabilidade social.
Superlotação e burocratização
A ideia de “desafogar a Santa Casa” pode soar como uma boa intenção, mas o efeito prático de centralizar diversos serviços em um único complexo pode ter o efeito oposto: a formação de filas ainda maiores, atendimento mais demorado e uma burocratização que pode prejudicar a eficiência do sistema de saúde. Em vez de simplificar, a proposta pode criar um gargalo administrativo, em que uma falha em um setor afete todos os outros serviços interligados.
Outro ponto crítico é a capacidade logística desse megacomplexo. A área próxima à Prefeitura já enfrenta problemas de trânsito e falta de estacionamento. Imagine o impacto de um fluxo diário de milhares de pessoas em busca de atendimento. Sem um planejamento urbano eficiente, o caos pode ser a consequência mais previsível.
Alternativas viáveis: reforçar a rede descentralizada
Ao invés de concentrar recursos em um único ponto, a gestão municipal poderia investir na ampliação das UBSFs já existentes e na criação de novas unidades em bairros estratégicos. Essa abordagem permite que os serviços estejam distribuídos de forma equilibrada, evitando sobrecargas e oferecendo um atendimento mais ágil e acessível.
A instalação de equipamentos como o tomógrafo – mencionado pelo prefeito – seria muito mais útil se localizado em uma unidade já existente de grande fluxo, como a própria Santa Casa, onde há demanda constante para exames de imagem, ao invés de integrá-lo a um novo polo distante da realidade de boa parte da população.
Melhorar a saúde pública não significa construir prédios grandiosos em áreas centrais. Significa facilitar o acesso, reforçar as estruturas que já funcionam e garantir que o atendimento chegue aos bairros mais distantes.
Se a prioridade da gestão Furlani é realmente a saúde, é hora de ouvir a população e investir onde o povo mais precisa: perto de casa.

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