Chefão do TCP, Peixão Monta Esquema Internacional para Importar Armas Pesadas no Rio
- Marcus Modesto
- 24 de mar.
- 3 min de leitura
Rio de Janeiro – Investigado pela Polícia Federal (PF), o traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão, líder do Terceiro Comando Puro (TCP), estruturou um esquema próprio de importação de armamento pesado para abastecer as favelas que controla na Zona Norte do Rio. As investigações revelam que o grupo comprava drones, fuzis e até granadas de fornecedores internacionais, utilizando empresas de transporte e até os Correios para trazer o material ao Brasil.
Áudios obtidos pela PF mostram Peixão negociando diretamente com fornecedores estrangeiros e planejando aquisições de alto valor. Em uma das gravações, ele afirma que o fluxo de compras será constante:
“A partir de agora, a gente já não vai parar mais não, né? Toda semana a gente vai estar comprando alguma coisa. Eu vou me programar pra semana que vem fazer uma compra de 100 mil”, diz Peixão em uma das mensagens.
Importações com Apoio de “Armeiro” e Laranjas
De acordo com a PF, Peixão tem domínio em parte do Complexo de Israel, área com cerca de 140 mil moradores, e contava com a ajuda de Everson Vieira Francesquet, conhecido como “Deus”, responsável por coordenar as compras e atuar como armeiro da facção.
Everson foi preso após tentar retirar um fuzil anti-drone em uma agência dos Correios em Nova Iguaçu, enviado como se fosse um “brinquedo eletrônico”. No celular dele, os investigadores encontraram conversas com vendedores da China e do Paraguai, além de comprovantes de remessas em dólar com códigos de rastreamento.
Em uma das mensagens, Everson detalha um pedido de cinco equipamentos:
“Veja a melhor forma de envio, dessa vez vou comprar 5 de uma vez. Tenho muitos clientes que querem isso”, afirma Peixão em diálogo interceptado.
Os pagamentos eram feitos por Pix, utilizando laranjas para movimentar valores elevados. A PF identificou transferências de R$ 30 mil a R$ 32 mil destinadas à compra de armamentos. Segundo as investigações, o TCP adquiria fuzis no Paraguai com preços que variavam entre R$ 7,5 mil e R$ 15 mil.
Logística Organizada para Recebimento de Armas
Além do uso dos Correios, Peixão também contava com transportadoras locais para facilitar o envio das armas. Em um dos áudios, ele detalha a logística:
“Eu consigo a transportadora que traz, já. Já tenho contato com a transportadora que vai trazer, até se for um fuzil. Não tem problema”, afirmou o traficante.
A investigação revelou que o grupo utilizava um sistema bem estruturado para disfarçar as encomendas e burlar fiscalizações. Recibos da DHL mostram que remessas partiam de Hong Kong e eram entregues diretamente na casa de Everson.
Prisão e Transferência para Presídio Federal
Everson foi preso novamente neste mês ao se apresentar à Justiça. Ele responde pelos crimes de tráfico internacional de armas e organização criminosa. A PF já solicitou sua transferência para um presídio federal, devido à gravidade do caso e ao risco de continuidade das atividades criminosas mesmo detido.
Em entrevista ao Fantástico, o superintendente da PF, Fábio Galvão, destacou a importância da integração entre os órgãos de segurança para combater o tráfico de armas no país:
“Os problemas são muito grandes e complexos e exigem coordenação e união de esforço. Estamos trabalhando em conjunto com a Receita Federal, IBAMA, Polícia Civil, Polícia Militar e a Secretaria de Segurança”, afirmou Galvão.
Peixão Segue Foragido
Apesar das operações policiais, Peixão continua foragido. A Polícia Civil já realizou diversas investidas para capturá-lo, incluindo a destruição de um “resort do tráfico” em uma das favelas sob seu controle. O espaço contava com academia, piscina e até lago artificial.
Agora, além de tráfico de drogas, Peixão também é indiciado por importação ilegal de armas e equipamentos de guerra.
Empresas Citadas se Defendem
Em nota, os Correios informaram que mantêm uma atuação rigorosa para identificar e bloquear o envio de objetos ilícitos, colaborando com os órgãos de segurança. A DHL Express declarou que não compactua com atividades criminosas e acompanha as investigações. Já o AliExpress afirmou que repudia qualquer ato ilegal e está à disposição das autoridades para auxiliar nas investigações.
As investigações continuam para identificar outros integrantes do esquema e capturar Peixão, considerado um dos criminosos mais perigosos do Rio de Janeiro.

Comentarios