Cineasta palestino vencedor do Oscar é libertado após ser espancado por soldados israelenses em prisão arbitrária
- Marcus Modesto
- 25 de mar.
- 3 min de leitura
O cineasta palestino Hamdan Ballal, vencedor do Oscar pelo documentário Sem Chão, foi libertado nesta terça-feira (25) após passar a noite detido em uma base militar israelense, onde, segundo sua advogada, foi brutalmente espancado por soldados. A prisão, descrita por organizações de direitos humanos como arbitrária e violenta, ocorreu após Ballal ser atacado por colonos judeus na Cisjordânia ocupada.
A libertação foi confirmada pelo jornalista israelense Yuval Abraham, codiretor do filme, que denunciou a atuação das forças de segurança como parte de uma política sistemática de repressão contra palestinos.
— Hamdan Ballal está livre e voltando para casa com sua família. Ele foi vítima de mais um episódio de abuso e violência institucionalizada contra palestinos na Cisjordânia — afirmou Abraham.
Prisão arbitrária após ataque de colonos
Ballal foi preso na segunda-feira (24), em meio a um ataque de colonos judeus à vila de Susiya, no sul de Hebron, durante o jantar do Iftar, que marca o fim do jejum do Ramadã. Segundo testemunhas, um grupo de colonos mascarados invadiu a vila para roubar ovelhas e, ao serem confrontados pelos moradores, iniciaram uma onda de violência que deixou pelo menos oito palestinos feridos.
Mesmo após ser agredido pelos colonos, Ballal foi arrancado de uma ambulância por soldados israelenses e levado vendado para uma base militar. A advogada do cineasta relatou que ele ficou algemado, vendado e sofreu espancamentos que resultaram em ferimentos na cabeça e no abdômen.
— Ele foi detido sem qualquer explicação, torturado durante a noite e tratado como criminoso por simplesmente estar presente para documentar a violência que os palestinos sofrem diariamente — denunciou a advogada.
A versão do Exército de Israel, como em inúmeros outros casos, tenta inverter os papéis, alegando que Ballal participava de um grupo de palestinos que atiravam pedras contra os colonos – uma justificativa amplamente utilizada para encobrir a violência militar e as ações ilegais de colonos protegidos pelo Estado.
Política de repressão e silenciamento
A prisão de Hamdan Ballal evidencia o padrão sistemático de repressão, silenciamento e criminalização de vozes palestinas que denunciam a ocupação e os abusos cometidos por Israel. A atuação coordenada entre colonos armados e o Exército israelense expõe a cumplicidade do Estado em um projeto de limpeza étnica e expansão territorial ilegal, em violação direta ao direito internacional.
O documentário Sem Chão, dirigido por Ballal e Abraham, escancara essa realidade ao retratar as expulsões forçadas e a brutalidade que palestinos enfrentam em seu próprio território. O filme recebeu o Oscar de Melhor Documentário em 2024, o que aumentou as pressões internacionais contra Israel e revelou a violência sistemática que a grande mídia ocidental frequentemente ignora ou suaviza.
— Eles não suportam que a verdade venha à tona. A prisão de Hamdan é um recado claro: qualquer palestino que ouse expor a realidade da ocupação será perseguido, agredido e silenciado — afirmou um dos ativistas presentes durante o ataque.
Impunidade garantida pelo Estado
Os ataques de colonos, muitas vezes realizados sob a proteção de soldados israelenses, tornaram-se parte de uma estratégia calculada para deslocar à força comunidades palestinas. Esses atos de violência raramente resultam em punição – ao contrário, são incentivados por uma política governamental que promove a expansão ilegal de assentamentos na Cisjordânia.
A libertação de Hamdan Ballal, embora um alívio temporário, não apaga a violência a que ele foi submetido nem a estrutura de apartheid que regula a vida palestina sob a ocupação israelense. Enquanto Israel segue violando acordos internacionais com a conivência de potências ocidentais, a repressão a palestinos que ousam resistir ou denunciar seus abusos se intensifica – e a prisão de um cineasta premiado globalmente é mais uma prova contundente desse sistema de opressão institucionalizada.

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