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Crimes por “entretenimento”: o horror ao vivo e a conivência das plataformas digitais

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 9 de abr.
  • 2 min de leitura

O crime bárbaro cometido no Rio de Janeiro em fevereiro — quando um homem em situação de rua foi incendiado por um adolescente e um militar, com tudo transmitido ao vivo via Discord — não é apenas mais um caso isolado de crueldade urbana. É o sintoma de um problema profundo e negligenciado: a ascensão de comunidades digitais extremistas, onde a violência real é convertida em espetáculo, e a dor do outro vira fonte de diversão.


A vítima, com 60% do corpo queimado, só foi localizada após o Ciberlab, ligado ao Ministério da Justiça, identificar a transmissão e alertar a Polícia Civil. Até então, o crime sequer havia sido registrado — uma evidência assustadora da invisibilidade social das vítimas e da capacidade de organização desses grupos.


A motivação? “Lulz”. Uma corruptela do inocente “LOL”, usada nesses círculos para justificar a busca por prazer no sofrimento alheio. A violência é planejada em grupos fechados — as chamadas “panelas” — e exibida ao vivo como se fosse parte de um game macabro. A disputa entre os membros é por status, por curtidas, por glória digital conquistada à custa de sangue e sofrimento real.


A conivência das plataformas digitais, como o Discord, salta aos olhos. Apesar das promessas de melhorar mecanismos de moderação, esses ambientes continuam funcionando como zonas livres para o extremismo, onde adolescentes e jovens já dessensibilizados à violência se reúnem para estimular crimes hediondos. Quando a plataforma age, já é tarde demais. Quando a polícia chega, o mal já foi feito — e transmitido.


Estamos diante de uma crise silenciosa que avança sob a sombra da negligência. O que era restrito a fóruns obscuros agora invade redes populares, acessadas por milhões. E o que era considerado inaceitável passa a ser banalizado por uma geração imersa em conteúdos extremos, sem barreiras morais e sem supervisão.


É urgente que plataformas como Discord, Telegram e afins deixem de ser meros repositórios de regras genéricas e passem a atuar de forma efetiva, com inteligência artificial aliada à ação humana, para detectar, interromper e responsabilizar esses grupos. Mas é igualmente necessário que o Estado, as famílias e a sociedade acordem para a gravidade do problema.


O caso do Rio é um grito de alerta — e talvez um dos últimos antes que o abismo da violência digital se torne intransponível.



 
 
 

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