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Crise da Light expõe desafios da concessão e interesses políticos no Rio

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 16 de fev.
  • 3 min de leitura

A reunião promovida pelo secretário de Assuntos Federativos do Governo Federal, André Ceciliano, no último sábado (15), em Mendes, trouxe à tona dois temas estratégicos para o Rio de Janeiro: a crise da Light e a retomada das obras de Angra 3. Embora tenha sido apresentada como um debate técnico e administrativo, o encontro acabou revelando movimentações políticas nos bastidores da sucessão estadual.


Light: concessão ameaçada e sistema sucateado


A presença do empresário Nelson Tanure, acionista da Light, e de executivos da concessionária reforçou o alerta sobre a situação financeira crítica da empresa, cuja concessão expira em 2026. Prefeitos como Neto (Volta Redonda), Kátia Miki (Barra do Piraí) e Pezão (Piraí) cobraram investimentos urgentes, destacando a precariedade do serviço prestado em seus municípios.


A realidade apontada pelos próprios representantes da Light é alarmante: anos de dificuldades financeiras e falta de investimentos deixaram o sistema elétrico sucateado. No entanto, a questão central não é apenas técnica, mas também política e econômica. A renovação da concessão da Light passa pelo crivo do governo federal, que pode optar por uma nova licitação ou até mesmo buscar outra modelagem para o setor.


Enquanto a empresa alega dificuldades, consumidores e prefeitos enfrentam apagões frequentes e tarifas elevadas, sem garantias de melhorias no curto prazo. A incerteza sobre o futuro da Light levanta uma questão essencial: quem realmente pagará a conta dessa crise?


Ausência do prefeito Furlani causa estranhamento


Entre os prefeitos que participaram da reunião, chamou atenção a ausência do chefe do Executivo de Barra Mansa, Luiz Furlani. Sua falta em um encontro tão relevante para a região Sul Fluminense levanta dúvidas sobre o compromisso da administração municipal em buscar soluções para um problema que afeta diretamente a cidade.


A Light presta um serviço essencial a Barra Mansa, e os recorrentes problemas no fornecimento de energia impactam comércios, indústrias e moradores, gerando prejuízos que exigem respostas imediatas. Diante disso, a ausência do prefeito em uma discussão estratégica com representantes do governo federal, estaduais e acionistas da concessionária é, no mínimo, preocupante.


Se outros prefeitos da região compareceram e cobraram investimentos, por que Barra Mansa não esteve representada nesse debate? A participação ativa nas decisões que envolvem infraestrutura e serviços essenciais deveria ser prioridade para qualquer gestor comprometido com sua cidade.


Angra 3: obra bilionária e o jogo de interesses


Outro ponto central da reunião foi a retomada das obras da usina nuclear Angra 3, paralisadas há anos e envolvidas em denúncias de superfaturamento. O deputado Júlio Lopes reforçou a importância da conclusão do projeto e solicitou que prefeitos gravassem vídeos pressionando pelo avanço da obra.


A justificativa é sempre a mesma: segurança energética e geração de empregos. No entanto, há um detalhe pouco discutido publicamente: os bilhões de reais já investidos sem resultados concretos. O projeto, iniciado há mais de três décadas, tornou-se um verdadeiro sumidouro de dinheiro público. Se por um lado a conclusão da usina pode garantir maior estabilidade no fornecimento de energia, por outro, há dúvidas sobre os reais beneficiários dessa retomada.


Eduardo Paes e a sucessão de 2026


Um dos pontos que chamou atenção no encontro foi a participação do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), levantando especulações sobre seus planos para a eleição estadual de 2026. O evento contou com a presença de prefeitos alinhados ao governador Cláudio Castro, que, nos bastidores, já teria indicado Rodrigo Bacelar, presidente da Alerj, como seu possível sucessor.


Caso haja uma divisão no grupo governista, Paes pode explorar esse racha para fortalecer sua influência no interior, contando com o apoio do presidente Lula e de André Ceciliano. A disputa pelo Palácio Guanabara, que parecia distante, já começou a ser desenhada – e as articulações passam diretamente pelas crises e investimentos estratégicos no estado.


Crise energética ou crise política?


O encontro em Mendes escancarou que os problemas da Light e de Angra 3 vão muito além da questão técnica. A crise energética no Rio de Janeiro tornou-se um campo de disputa política e econômica, onde interesses empresariais, disputas partidárias e o jogo pelo poder estadual se misturam.


Enquanto isso, a população continua enfrentando apagões, tarifas elevadas e promessas de investimentos que nunca se concretizam. No fim das contas, o grande risco é que a renovação da Light e a conclusão de Angra 3 sejam decididas não pelo interesse público, mas pelos interesses privados e políticos de quem está no comando.



 
 
 

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