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Crise na CBF expõe aliança entre poder, futebol e Judiciário — e coloca STF sob novo teste de integridade institucional

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 16 de mai.
  • 2 min de leitura

A mais recente ofensiva da CBF no Supremo Tribunal Federal escancara um cenário de deterioração institucional que ultrapassa os limites do futebol. O recurso apresentado nesta semana pela entidade para tentar manter Ednaldo Rodrigues no comando da confederação não é apenas uma manobra jurídica: é um retrato cristalino da simbiose entre interesses políticos, disputas de bastidores e a fragilidade das estruturas de controle no esporte brasileiro.


Sob a alegação de que sua autoridade foi ferida, a CBF tenta usar o STF como escudo contra uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio que afastou Ednaldo, baseando-se em indícios graves de fraude. A suspeita de falsificação da assinatura do ex-presidente da entidade, coronel Nunes — um homem de 86 anos, com diagnóstico de déficit cognitivo —, coloca a atual gestão sob um cerco ético e legal. No entanto, em vez de enfrentar as acusações com a transparência que se espera de quem comanda o futebol nacional, a confederação responde com mais uma investida nos tribunais.


O argumento central é conhecido: qualquer interferência seria uma ameaça à estabilidade do esporte e à autoridade da Suprema Corte. Mas essa narrativa esconde o que realmente está em jogo — o controle político e financeiro da maior entidade esportiva do país, uma instituição historicamente blindada por alianças nebulosas e protegida por quem deveria fiscalizá-la.


É nesse ponto que a figura do ministro Gilmar Mendes reaparece com força. Relator da ação que permitiu a volta de Ednaldo à presidência em 2023, Mendes agora vê sua imparcialidade ser contestada. A CBF mantém um contrato milionário com o IDP, instituto fundado pelo próprio ministro. A relação, embora não declaradamente ilegal, alimenta o debate sobre o nível de promiscuidade entre as estruturas de poder que orbitam Brasília e a cartolagem esportiva.


Não bastassem as denúncias de fraude documental, Ednaldo também enfrenta acusações internas de assédio moral e gestão temerária. Em qualquer instituição séria, isso bastaria para afastamento imediato e abertura de uma apuração rigorosa. Na CBF, porém, o cenário é outro: o presidente se vale da força política de decisões judiciais contestadas, contratos milionários com escritórios de advocacia e do silêncio cúmplice de parte do Congresso e da imprensa esportiva.


Enquanto a Fifa e a Conmebol pressionam contra “interferências externas”, a justiça brasileira hesita entre coibir os abusos e acatar o discurso da estabilidade institucional. A questão que se impõe é: estabilidade para quem?


A crise atual expõe mais do que uma disputa pelo comando da CBF. Ela revela um sistema em que a legalidade é relativizada em nome de conveniências, onde decisões judiciais parecem moldadas para atender interesses circunstanciais e onde o futebol, usado como escudo, serve para esconder práticas que nada têm de esportivas.


Se o STF realmente deseja preservar sua autoridade, deve começar por preservar a integridade do próprio sistema jurídico. Proteger dirigentes sob suspeita enfraquece não apenas a imagem da corte, mas compromete a confiança da sociedade em todo o processo democrático.


O futebol brasileiro, mergulhado em escândalos há décadas, não será regenerado com conchavos palacianos nem com blindagens jurídicas de ocasião. O que está em jogo agora não é só quem comanda a CBF — é até onde o Brasil vai tolerar que a impunidade continue driblando a justiça com apoio das instituições que deveriam contê-la.



 
 
 

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