Crise na saúde em Volta Redonda expõe urgência da CPI da CSN: poluição deixa marcas visíveis na cidade e no corpo da população
- Marcus Modesto
- 27 de jun.
- 2 min de leitura
A recente aprovação, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), do projeto que reconhece o estado de calamidade financeira na saúde pública de Volta Redonda escancara uma realidade há muito ignorada: o colapso de um sistema que adoece não só por falta de recursos, mas também pela negligência ambiental. Em meio a filas intermináveis por atendimento, unidades precárias e um rombo de R$ 32 milhões no orçamento da média e alta complexidade, o alerta vermelho foi finalmente soado — mas com atraso.
A calamidade reconhecida oficialmente é, na prática, vivida há anos por quem depende do SUS na cidade. E para o deputado estadual Jari Oliveira (PSB), o diagnóstico é claro: boa parte desse colapso tem como pano de fundo a poluição produzida pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que continua operando sob um manto de permissividade ambiental e política.
Jari, que já presidiu três mandatos como vereador e hoje comanda a Comissão de Saneamento Ambiental da Alerj, aponta o óbvio que muitos ainda preferem ignorar: “Estamos falando do ar que se respira, da água que se bebe. A crise não é só hospitalar — ela está no pulmão das pessoas, no aumento de casos de câncer, de doenças cardíacas e respiratórias. É uma epidemia invisível, mas que mata aos poucos.”
A CPI da CSN, proposta por ele em 2023 e até hoje engavetada, ganha agora fôlego com a situação de calamidade. O temor de uma epidemia de dengue tipo 3 só agrava o quadro. Mas a morosidade da Alerj em instalar a comissão contrasta com a urgência sentida nas ruas da cidade. Afinal, quantos moradores precisarão adoecer — ou morrer — para que o Parlamento cumpra seu papel?
Nem mesmo os R$ 900 mil em emendas destinados pelo deputado ao Inea para instalar estações de monitoramento da qualidade do ar e da água saíram do papel. O Instituto segue inerte, empurrando o problema enquanto a população paga a conta — com a própria saúde. Diante disso, a alternativa defendida por Jari é clara: tirar o Inea da jogada e passar a responsabilidade ao Ibama. Uma medida extrema, mas talvez a única diante da paralisia deliberada do órgão estadual.
O “pó preto”, visível nos parapeitos e invisível nos pulmões, é apenas um símbolo de algo mais profundo: o pacto de silêncio em torno dos impactos da CSN. Uma empresa que sustenta parte da economia local, mas que também impõe um custo altíssimo à saúde pública e à dignidade dos cidadãos.
O reconhecimento oficial da calamidade pode ser o ponto de virada. Mas só será, de fato, se o Parlamento tiver coragem de romper com a conveniência e abrir a CPI que há tanto se protela. A saúde da população de Volta Redonda não pode continuar sendo o preço do progresso industrial. Ou a cidade reage agora — ou continuará respirando doença.

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