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Crivella e a nova face de um velho problema: corrupção em tempos de tragédia

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 14 de mai.
  • 2 min de leitura

A decisão da Justiça do Rio de Janeiro de bloquear até R$ 200 milhões em bens do ex-prefeito Marcelo Crivella e aliados expõe, mais uma vez, o grau de degradação ética de parte da elite política brasileira. A nova denúncia do Ministério Público, que envolve contratos emergenciais firmados durante o auge da pandemia de Covid-19, escancara não apenas suspeitas de superfaturamento, mas também o uso da tragédia sanitária como oportunidade de lucro e favorecimento pessoal.


O escândalo gira em torno da contratação da empresa chinesa China Meheco, que teria fornecido equipamentos médicos em quantidade superior à necessária, a preços inflacionados e com perdas ainda maiores causadas pela variação cambial. Tudo isso supostamente estruturado por um empresário sem vínculo formal com a prefeitura, mas com laços estreitos com Crivella. Para completar o quadro, há indícios de pagamento de propina disfarçada de comissão e até repasses para financiar campanhas políticas — o que, se comprovado, transforma a já abjeta improbidade em uma clara afronta à democracia.


O episódio remete diretamente ao “QG da Propina”, caso pelo qual Crivella chegou a ser preso em 2020. Parece não haver limite para a reincidência quando o custo político é nulo ou absorvido como parte do jogo. A decisão do TSE que o tornou


inelegível parece ter surtido pouco efeito prático, diante da reincidência das denúncias e da insistência de certas figuras públicas em permanecer no cenário político mesmo sob intensa suspeição.


A ação do Ministério Público, com pedido de bloqueio de bens e possível perda de direitos políticos, é um passo importante — mas está longe de ser suficiente. O que se espera da Justiça é não apenas celeridade, mas coragem em garantir que figuras públicas que transformam tragédias coletivas em moeda eleitoral e pessoal sejam definitivamente afastadas da vida pública.


O silêncio da defesa de Crivella até o momento ecoa o silêncio do Estado diante dos que, durante a pandemia, morreram à espera de um leito, de um respirador, de uma vacina. Não há resposta jurídica capaz de apagar esse passado, mas há responsabilidade a ser cobrada — política, civil e penal. E que não seja, mais uma vez, adiada.



 
 
 

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