Decisão da Justiça revela rede de tortura e controle do Comando Vermelho no Rio
- Marcus Modesto
- 30 de out.
- 3 min de leitura
ZA decisão da 42ª Vara Criminal do Rio de Janeiro que fundamentou a Operação Contenção, deflagrada nesta terça-feira (28) pela Polícia Civil e pelo Ministério Público do Estado, revela uma estrutura armada e organizada do Comando Vermelho (CV) no Complexo da Penha e em comunidades vizinhas. O documento detalha o uso sistemático de tortura, o controle sobre moradores e a expansão violenta da facção em áreas antes dominadas por milicianos.
Assinada pelo juiz Leonardo Rodrigues da Silva Picanço, a decisão determinou a prisão preventiva de mais de 60 suspeitos ligados ao CV. Entre eles estão Edgar Alves de Andrade (Doca ou Urso), apontado como principal liderança da facção no Rio, e Pedro Paulo Guedes (Pedro Bala). Também são citados Carlos da Costa Neves (Gardenal), Washington César Braga da Silva (Grandão ou Síndico da Penha) e Juan Breno Malta Ramos Rodrigues (BMW).
Reuniões e planos de expansão
Segundo o magistrado, as investigações começaram após uma denúncia anônima feita em janeiro de 2024, relatando uma reunião entre chefes do Comando Vermelho na Penha para planejar a expansão territorial do grupo. A partir desse inquérito, conduzido pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), foram coletados vídeos, mensagens e fotos que revelam o funcionamento interno da organização.
O material inclui ordens sobre plantões armados, transporte de drogas, monitoramento de viaturas e punições a moradores considerados desobedientes. Interceptações telefônicas mostram que Doca centralizava toda a logística do tráfico — da venda e armazenamento de drogas ao controle de armamento pesado e da contabilidade da facção.
Hierarquia e divisão de funções
O Ministério Público identificou três principais homens de confiança de Doca: Pedro Bala, Gardenal e Grandão, cada um com funções específicas dentro da estrutura criminosa.
Gardenal era o chefe operacional, responsável por coordenar a expansão do CV em Jacarepaguá. Ostentava armas, carros de luxo e grandes quantias de dinheiro, além de administrar grupos de WhatsApp usados para definir escalas de segurança e repassar ordens.
Grandão, por sua vez, era o gerente geral do tráfico na Penha, responsável por pagamentos e turnos de soldados armados. Em uma conversa citada na decisão, ele chega a negociar com um policial militar a devolução de um carro roubado.
Grupo de extermínio e rotina de tortura
O documento também destaca a atuação de Juan Breno (BMW), líder de um grupo conhecido como “Sombra”, responsável por torturar, punir e executar moradores e rivais. Ele ainda treinava novos integrantes para o uso de fuzis e armas de guerra.
As provas reunidas incluem vídeos de tortura e execuções. Em um deles, Aldenir Martins do Monte Júnior aparece amarrado e sendo arrastado por um carro, enquanto implora por perdão e cita o nome “BMW”. O juiz registrou que o acusado “fazia piada do sofrimento da vítima”.
Outro vídeo mostra Fagner Campos Marinho (Bafo) torturando um homem ensanguentado e perguntando se ele “quer morrer logo”.
Terror como ferramenta de controle
Para o Ministério Público, as conversas e registros obtidos demonstram o uso da tortura como instrumento de dominação nas comunidades controladas pelo Comando Vermelho. O juiz cita 48 pessoas como soldados do tráfico e identifica uma mulher como olheira, encarregada de monitorar a movimentação policial.
Na decisão, o magistrado justificou as prisões preventivas afirmando que os investigados representam risco à ordem pública. Muitos têm histórico criminal extenso, e mesmo os sem antecedentes foram flagrados com armas de grosso calibre, drogas e rádios comunicadores.
Atuação em 12 comunidades do Rio
As provas apontam que a facção mantém estrutura estável e permanente em pelo menos 12 comunidades da Zona Norte do Rio. O juiz decretou a prisão de 51 suspeitos e aplicou medidas cautelares a outros 17.
Até o momento, o governo estadual não divulgou o número de presos ou mortos durante a Operação Contenção.




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