Defesa de Bolsonaro tenta adiar depoimentos no STF em inquérito sobre trama golpista
- Marcus Modesto
- 14 de mai.
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A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta terça-feira (13), o cancelamento das oitivas previstas para a próxima semana no inquérito que investiga a tentativa de subverter o resultado das eleições de 2022. A solicitação ocorre no momento em que o cerco judicial contra Bolsonaro e aliados se estreita, com base em delações e provas que apontam para a articulação de um golpe de Estado para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
As audiências estão marcadas para começar no dia 19 de maio e incluem um total de 82 testemunhas, entre militares de alta patente, ex-ministros, governadores e senadores ligados ao bolsonarismo. A lista foi definida após pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e inclui nomes como os ex-comandantes Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos Baptista Junior (Aeronáutica), ambos citados em depoimentos como alvos de pressão direta de Bolsonaro para aderir a um plano de ruptura institucional.
No pedido, os advogados do ex-presidente alegam que não tiveram acesso a todo o material reunido pela Polícia Federal e que precisam de mais tempo para analisar os elementos que, segundo eles, “permaneceram fora do processo”. A defesa também pleiteia a reabertura do prazo para indicar novas diligências e ampliar o número de testemunhas, estratégia interpretada nos bastidores como uma tentativa de adiar o avanço das investigações.
A ofensiva jurídica ocorre num momento em que os depoimentos colhidos pela PF — incluindo o do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente — revelam detalhes de reuniões e tratativas dentro do Palácio do Planalto para questionar e eventualmente reverter o resultado do pleito. Cid relatou que houve reuniões em que Bolsonaro teria insistido em estratégias que incluíam a participação ativa das Forças Armadas.
Entre os nomes que devem depor estão ainda o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (ex-ministro de Bolsonaro), o ex-ministro da Economia Paulo Guedes e os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), Rogério Marinho (PL-RN) e Hamilton Mourão (Republicanos-RS). Todos ocupavam cargos estratégicos durante o governo Bolsonaro e são apontados como peças-chave na tentativa de sustentar politicamente uma eventual ofensiva contra a legitimidade eleitoral.
O pedido ainda será analisado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito. Caso seja negado, as oitivas seguirão normalmente a partir da próxima semana. A decisão será acompanhada de perto por investigadores, já que os depoimentos poderão confirmar ou contradizer pontos centrais da delação de Mauro Cid — o que pode consolidar juridicamente o entendimento de que houve uma tentativa coordenada de golpe.
Enquanto isso, Bolsonaro, que nega envolvimento em qualquer plano golpista, vê seu entorno político e militar cada vez mais implicado em uma trama que, se comprovada, poderá marcar a história recente do país como uma das mais graves ameaças à democracia desde a redemocratização.

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