Deputado bolsonarista deseja morte de Lula em comissão da Câmara e pode ser investigado pela PF
- Marcus Modesto
- 9 de abr.
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A democracia brasileira assistiu nesta terça-feira (8) a mais um episódio que põe em xeque os limites do decoro parlamentar e o respeito às instituições. Durante sessão da Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados, o deputado federal Gilvan da Federal (PL-ES) protagonizou um dos momentos mais violentos do debate político recente ao declarar publicamente seu desejo de morte ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A fala, carregada de ódio e hostilidade, foi proferida diante de outros parlamentares, microfone aberto e em pleno exercício de sua função pública. “Eu quero mais que o Lula morra, quero que ele vá para o quinto dos infernos… Tomara que ele tenha uma taquicardia…”, disse Gilvan, que também insinuou que nem o diabo quer o presidente. A fala não só ultrapassa os limites do aceitável em um debate político democrático, como também levanta questionamentos sobre a impunidade de discursos que incitam violência, mesmo partindo de autoridades eleitas.
O episódio motivou o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), Jorge Messias, a acionar a Procuradoria-Geral da República e a Polícia Federal, solicitando a abertura de investigação sobre o comportamento do parlamentar. “É inaceitável no Estado Democrático de Direito que um parlamentar use o espaço nobre da Comissão de Segurança Pública da Câmara para defender a morte do presidente da República”, escreveu Messias em suas redes sociais.
A Polícia Federal, por sua vez, confirmou que a corregedoria da instituição irá analisar o caso como uma possível notícia de crime. O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, afirmou à CNN que a corporação avaliará tecnicamente a representação encaminhada pela AGU.
O contexto da sessão que originou a polêmica também é emblemático. A comissão discutia um projeto apresentado por deputados da oposição que propõe proibir o uso de armas de fogo por equipes responsáveis pela segurança do presidente da República e ministros de Estado — um projeto que o próprio governo classificou como provocativo e desprovido de real intenção legislativa. Gilvan da Federal, que é o relator da proposta, utilizou o espaço para lançar ataques pessoais e apelos de morte, desvirtuando completamente o debate.
O caso expõe uma perigosa escalada de discurso extremista por parte de alguns membros do Legislativo e põe em evidência a conivência institucional com atos que atentam contra a estabilidade democrática. O silêncio ou a omissão da Câmara diante de declarações como essa sinaliza não apenas tolerância ao desrespeito institucional, mas também a erosão de limites civilizatórios no ambiente político brasileiro.
Resta saber se a Câmara dos Deputados, a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República tratarão o episódio com a seriedade que ele exige — ou se mais uma vez o extremismo passará impune sob a sombra do foro privilegiado e do populismo radicalizado.

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