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Destombamento de áreas da Koeler reacende temor de descaracterização e especulação em Petrópolis

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 20 de abr.
  • 2 min de leitura

A proposta do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) de reduzir em 38% a área tombada do conjunto urbano-paisagístico da Avenida Koeler, em Petrópolis, vem sendo recebida com forte resistência por moradores, ambientalistas e entidades de defesa do patrimônio. O plano, que exclui da proteção federal trechos significativos de rios, afluentes e suas margens — hoje essenciais à identidade e ao sistema urbanístico da cidade — acende o alerta para um possível avanço desordenado de empreendimentos imobiliários em regiões sensíveis.


Na prática, a proposta pode representar o maior retrocesso na política de preservação de Petrópolis desde o tombamento original de 1964. Enquanto o Iphan argumenta que a medida busca concentrar esforços em áreas que “ainda mantêm características preservadas”, especialistas e moradores enxergam o gesto como uma abertura disfarçada à especulação imobiliária, em um momento de fragilidade ambiental e sobrecarga urbana.


“É um precedente perigoso. Em vez de expandir a proteção diante das pressões urbanas crescentes, o Iphan decide recuar. Isso não é atualização, é rendição”, afirma Alfredo de Sá Earp, da Associação Amigos de Petrópolis. O temor de que a decisão sirva como uma carta branca para loteamentos e obras em regiões de proteção ambiental histórica é compartilhado por urbanistas, arquitetos e historiadores.


Os rios, cuja exclusão do perímetro tombado é tratada como questão secundária pela equipe técnica do Iphan, são na verdade eixos estruturantes do traçado original de Petrópolis, desenhado no século XIX. Descartá-los como áreas “descaracterizadas” é ignorar sua centralidade para o ordenamento urbano e ambiental da cidade imperial — e também para o imaginário coletivo que sustenta seu valor cultural.


Enquanto a proposta promete manter o tombamento de 469 imóveis e ampliar proteções pontuais, como no caso da Companhia Petropolitana de Tecidos, o impacto da retirada de tutela em grandes áreas — especialmente nos entornos dos rios e da Fábrica de Tecidos Cometa — é visto como uma manobra que enfraquece o papel do Iphan como guardião do patrimônio e da paisagem cultural brasileira.


Chama atenção também o timing da proposta: em meio a um mercado imobiliário cada vez mais voraz e a declarações de interesse de construtoras por áreas que podem vir a ser “liberadas”. A própria prefeitura, em nota, adota um tom ambíguo: defende uma “proteção responsável” que não impeça o “avanço sustentável” — sem esclarecer que tipo de avanço se projeta quando se abrem flancos em áreas protegidas.


Mais que uma simples revisão técnica, o que está em curso é um embate de visões: entre o patrimônio como memória viva, coletiva e pública, e a cidade como ativo financeiro, privatizado e negociável. O desfecho dessa proposta dirá muito sobre o rumo que Petrópolis, e o próprio Iphan, estão dispostos a trilhar.


Porque tombar — ou destombar — é sempre uma escolha política. E essa escolha, agora, está sob severo escrutínio.



 
 
 

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