Divisão no PL expõe racha entre ala ideológica e bancada pragmática
- Marcus Modesto
- 4 de abr.
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A mais recente votação na Câmara dos Deputados escancarou as divisões internas no PL, especialmente entre os bolsonaristas mais fiéis e os parlamentares que decidiram seguir uma agenda mais pragmática. O motivo da discórdia foi a aprovação do projeto de reciprocidade comercial — uma proposta apoiada pelo governo Lula e que contou com a adesão da maioria da bancada liberal.
A medida permite que o Brasil imponha sanções comerciais a países que não ofereçam tratamento igualitário ao país em termos econômicos. Na prática, é uma resposta direta à retórica protecionista do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que prometeu aumentar tarifas sobre produtos estrangeiros caso volte ao poder.
Mesmo com o ex-presidente Jair Bolsonaro tendo se posicionado publicamente contra o projeto, a pressão do agronegócio — setor estratégico para a base bolsonarista — e a articulação do líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), fizeram Bolsonaro recuar. Ele liberou a bancada para votar como quisesse, evitando um confronto direto com um de seus pilares de sustentação política e econômica.
Ainda assim, a ala mais ideológica do PL, liderada por Eduardo Bolsonaro, não engoliu a decisão. O grupo acusa os colegas de enfraquecer a posição de oposição ao governo Lula e alertam que a aprovação da proposta pode acirrar tensões comerciais com os Estados Unidos, especialmente com a ala trumpista, com quem mantêm alinhamento ideológico.
“O partido precisa decidir se quer ser oposição de verdade ou apenas agradar setores específicos”, afirmou um deputado ligado a Eduardo, sob reserva. Para esse grupo, a postura de reciprocidade adotada pelo Brasil “joga gasolina na fogueira” e pode desencadear uma guerra comercial com consequências imprevisíveis.
Apesar da tensão, o projeto foi aprovado com ampla maioria. O episódio, no entanto, deixa evidente que o PL vive um impasse: entre a fidelidade cega a Bolsonaro e a necessidade de atender interesses econômicos concretos de sua base — especialmente o poderoso setor do agronegócio.

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