Donald Trump Assume Segundo Mandato e Se Alinha com o Vale do Silício
- Marcus Modesto
- 20 de jan.
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Mundo:
A partir desta segunda-feira (20), Donald Trump inicia seu segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, retomando o comando da Casa Branca quatro anos depois de sair por uma saída controversa, sem comparecer à posse de Joe Biden, em meio às acusações de envolvimento no ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. Sua vitória em novembro sobre a democrata Kamala Harris, tanto no colégio eleitoral quanto no voto popular, marca o retorno do magnata republicano ao poder, desta vez com um cenário diferente.
Trump volta ao governo com um contexto favorável. Além de controlar as duas casas do Congresso, ele tem uma maioria conservadora na Suprema Corte, o que fortalece sua agenda. Suas propostas para o segundo mandato incluem tolerância zero com a imigração ilegal, a intensificação de uma guerra comercial com outros países e o combate ao que considera ser o “politicamente correto”, buscando em nome da liberdade de expressão.
Este retorno, que muitos consideram uma “ressurreição política”, vem acompanhado de duas tendências importantes. A primeira é a lealdade inabalável de seu entorno, que parece menos propenso a moderar seus impulsos e mais focado em promover sua agenda. A segunda tendência, e novidade no segundo mandato, é o crescente alinhamento de grandes empresas do Vale do Silício com sua política, algo que foi forjado durante a campanha e que agora parece consolidado.
Embora a maioria legislativa de Trump seja estreita, no Senado com apenas dois senadores republicanos a mais que os democratas, e na Câmara com quatro deputados a mais, a força política do novo presidente é indiscutível. Beverly Gage, historiadora da Universidade de Yale, comentou que Trump “não tinha nem de longe a mesma legitimidade que tem agora”, destacando que ele saiu da eleição “mais forte e com pessoas mais experientes ao seu redor”, o que aumenta as expectativas sobre o que ele pode realizar.
A Coalizão com os Ultra-Ricos e o Vale do Silício
Trump construiu para este mandato uma coalizão com as grandes empresas do Vale do Silício, que historicamente eram mais próximas aos democratas. Empresas como Meta, Google, OpenAI e outras agora flertam com a agenda republicana, especialmente após a aproximação com Elon Musk, dono da Tesla e do X (antigo Twitter), cujo império de US$ 434 bilhões agora se junta a Trump em uma aliança estratégica. Musk, que já foi um apoiador de Barack Obama, se tornou um crítico fervoroso de práticas de inclusão e diversidade no setor corporativo.
A Meta de Mark Zuckerberg, por exemplo, tem adotado posturas que favorecem a liberdade de expressão, como a cessação do programa de checagem de notícias no Facebook e Instagram, e a mudança de suas políticas de diversidade, alinhando-se cada vez mais com a visão de Trump. Zuckerberg, além de doar US$ 1 milhão para a posse de Trump, também fez mudanças em sua empresa que refletem esse alinhamento, incluindo a nomeação de Dana White, aliado de Trump, para cargos importantes na Meta.
Além disso, Jeff Bezos (Amazon), Tim Cook (Apple), Sundar Pichai (Google), Sam Altman (OpenAI), e outros gigantes do Vale do Silício também estão se alinhando ao movimento de Trump, com doações generosas para a posse e com uma aproximação crescente de suas políticas. Esse apoio financeiro e político reflete o movimento de “trumpização” do setor corporativo americano.
Impactos Políticos e Sociais
O apoio do Vale do Silício a Trump não se limita às contribuições financeiras, mas também envolve uma reconfiguração dos valores de muitas empresas. Zuckerberg, por exemplo, ao afirmar que “um pouco de energia mais masculina é bom”, reflete a tendência de abandono dos programas de diversidade e inclusão, que têm sido progressivamente minimizados por empresas como Ford, Harley Davidson, McDonald’s, e Walmart, que, com o governo Trump, se sentiram menos pressionadas a adotar políticas voltadas para as minorias.
Trump, assim, se fortalece com o apoio de uma oligarquia empresarial, que se alia para promover sua agenda de desregulação e redução da intervenção governamental, especialmente em áreas como a inteligência artificial. Como analisa o professor de relações internacionais da ESPM, Leonardo Trevisan, essa aliança de Trump com as big techs visa enfraquecer o controle estatal, algo que não era visto desde os tempos dos barões do século 19, quando grandes empresários também buscavam desregulamentação em benefício de seus interesses.
Uma Nova Era?
O retorno de Trump ao poder não é apenas um fenômeno político, mas também um reflexo das mudanças no seu apoio corporativo e na crescente concentração de poder nas mãos de um grupo seleto de bilionários e gigantes tecnológicos. Essa aliança entre o presidente e as grandes empresas pode ser um indicativo de que os EUA estão caminhando para um modelo de governança corporativa, onde o poder econômico e político se entrelaçam de forma inédita.
O questionamento de Biden sobre a formação de uma oligarquia de ultra-ricos nos EUA parece cada vez mais pertinente. A concentração de poder nas mãos de Trump e de seus aliados pode alterar a dinâmica política e social do país, gerando tensões internas, não apenas no campo político, mas também no mercado e na sociedade americana.
A questão que resta é até onde essa nova aliança e o fortalecimento de Trump podem moldar o futuro político dos EUA e quais serão as consequências dessa ascensão de poder, tanto para a democracia americana quanto para o cenário global.
Foto oficial de Trump

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