EDITORIAL | A barbárie digital que cresce sob nossos olhos
- Marcus Modesto
- 14 de mai.
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Marcus Modesto
A segunda fase da “Operação Adolescência Segura”, deflagrada nesta quarta-feira (14), escancarou o que muitos preferem não enxergar: uma nova geração sendo moldada no submundo da internet, onde ódio, violência e crimes hediondos se transformam em passatempo. Quatro adolescentes foram apreendidos em diferentes estados do país, acusados de integrar uma rede criminosa que opera em plataformas como o Discord, promovendo atos de crueldade inimaginável — do incentivo ao suicídio à apologia ao nazismo, passando pela transmissão ao vivo de uma tentativa de homicídio.
A frieza dos crimes choca, mas talvez mais chocante seja o silêncio com que esse tipo de realidade se dissemina. Enquanto pais, escolas e o Estado mantêm os olhos fixos nas grades curriculares e nas estatísticas do Enem, uma verdadeira máquina de perversidade vai se sofisticando no ambiente virtual, emulando seitas digitais, desafiando limites morais e legais, aliciando jovens e crianças para competições baseadas em sofrimento humano.
A investigação da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV) desvela algo mais profundo: a falência da mediação entre juventude e tecnologia. O caso do morador de rua queimado vivo com coquetéis molotov, em um atentado transmitido ao vivo, não é apenas um crime — é um sinal de alerta de que parte da juventude está sendo treinada para desumanizar. São jovens que não apenas cometem crimes, mas os celebram, compartilham e replicam como troféus virtuais.
Estamos diante de uma epidemia silenciosa, agravada pela omissão das grandes plataformas, pela lentidão do Estado e pela despreparada estrutura familiar e escolar para lidar com os abismos psicológicos do século XXI. É urgente que o país enfrente esse problema com a seriedade que ele exige. Não se trata apenas de punir adolescentes — trata-se de salvar crianças antes que sejam seduzidas por esse labirinto de horror.
A barbárie não está no futuro. Está acontecendo agora, nos quartos trancados, nos fones de ouvido, nos servidores criptografados. E, como sociedade, não podemos mais alegar surpresa. Se nada for feito, a próxima vítima pode não ser apenas um morador de rua. Pode ser seu filho.

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