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Editorial - Ferrovia do Império: reativar a linha Barra Mansa–Angra vale o investimento?

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 19 de abr.
  • 2 min de leitura

Marcus Modesto


BARRA MANSA (RJ) – A proposta de reativação da ferrovia que liga Barra Mansa a Angra dos Reis, desativada há mais de uma década, voltou à pauta do Governo Federal. Incluído no novo plano de concessões da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o projeto é apresentado como uma solução para o escoamento de cargas e estímulo ao turismo. Mas especialistas e moradores da região questionam: vale investir milhões em uma estrutura projetada no século XIX?


Construída ainda no período imperial, a ferrovia possui bitola estreita (1 metro), padrão defasado para os padrões logísticos atuais. Esse tipo de trilho impõe restrições de velocidade, menor capacidade de carga e limita a integração com outras malhas ferroviárias, que operam com bitolas mais largas ou mistas. Ou seja, trata-se de um sistema com infraestrutura obsoleta, que exigiria uma readequação profunda para operar em escala comercial competitiva.


Apesar disso, o governo sinaliza interesse em conceder a linha à iniciativa privada, com promessas de desenvolvimento regional e reativação econômica. O discurso é atraente: desafogar rodovias, facilitar o transporte de cargas do interior de Minas até o litoral e impulsionar o turismo com um “trem da Mata Atlântica”. Na prática, porém, o projeto exige investimentos milionários em reconstrução de trechos, contenção de encostas, modernização de estações e aquisição de novos trens adaptados à bitola.


A pergunta que paira sobre o projeto é direta: vale a pena reativar um sistema ferroviário antigo em vez de investir na construção de uma nova linha, moderna, conectada e eficiente? A resposta, por enquanto, parece pender mais para o simbolismo do que para a racionalidade econômica.


Em um país onde obras públicas se arrastam por décadas e raramente são concluídas no prazo e orçamento previstos, retomar uma ferrovia de mais de 150 anos, com todos os entraves que isso implica, pode se transformar em mais um projeto caro, lento e pouco funcional. Sem planejamento rigoroso, sem garantias de viabilidade técnica e sem diálogo com especialistas independentes, o risco é alto: transformar uma ideia nostálgica em um elefante branco sobre trilhos.



 
 
 

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