Eduardo Bolsonaro se licencia e intensifica discurso de perseguição em meio a julgamento do pai no STF
- Marcus Modesto
- 19 de mar.
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A uma semana do julgamento que pode tornar Jair Bolsonaro réu por tentativa de golpe de Estado, seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), anunciou uma licença não remunerada do mandato, alegando perseguição do Poder Judiciário. O movimento, que pegou parte do Congresso de surpresa, é visto como mais uma estratégia para mobilizar a base bolsonarista e pressionar as instituições diante do cerco jurídico que se fecha contra o ex-presidente.
A decisão foi divulgada por Eduardo em um vídeo nas redes sociais, em que acusa o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de “abuso de autoridade” e afirma que permanecerá nos Estados Unidos até que, segundo ele, o magistrado seja punido. Mesmo após Moraes arquivar o pedido de apreensão de seu passaporte, o parlamentar insistiu na narrativa de perseguição e, em tom desafiador, afirmou que continuará denunciando o que chama de violações aos direitos humanos.
Pressão externa e aproximação com Trump
Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos há 22 dias, reforça suas conexões com a direita americana, em especial com aliados do ex-presidente Donald Trump. Segundo fontes próximas, a ideia é ampliar a pressão internacional sobre o STF, em uma tentativa de desgastar a imagem do Judiciário brasileiro. Em entrevista, Eduardo chegou a mencionar a possibilidade de pedir asilo político aos Estados Unidos, embora não tenha formalizado tal pedido até o momento.
A atitude de Eduardo ocorre após a manifestação esvaziada liderada por Jair Bolsonaro em Copacabana, no último domingo. Embora tenha prometido reunir 1 milhão de apoiadores em defesa da anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro, pesquisadores da USP estimaram a presença de apenas 18,3 mil pessoas. O ato morno evidenciou a dificuldade do ex-presidente em manter a mobilização popular em alta enquanto enfrenta investigações e perde espaço no cenário político.
Tensões no Congresso e resistência ao projeto de anistia
Nos bastidores do Congresso, a licença de Eduardo foi recebida com cautela. Aliados do PL classificaram o gesto como “corajoso”, enquanto adversários ironizaram a decisão, sugerindo que o parlamentar estaria “fugindo” das consequências jurídicas. Parlamentares da esquerda, como Maria do Rosário (PT-RS) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), não pouparam críticas e compararam a saída do deputado ao comportamento de outros foragidos ligados ao bolsonarismo.
O movimento de Eduardo também aumenta a pressão sobre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que já sinalizou não estar disposto a pautar o projeto de anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de janeiro de 2023. No Senado, o presidente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) também indicou que a proposta não terá andamento. Mesmo entre os partidos do Centrão, há divisões claras sobre apoiar ou não a agenda bolsonarista.
Bolsonaro sob ameaça real de virar réu
Enquanto Eduardo tenta inflamar a narrativa de perseguição no exterior, Jair Bolsonaro se aproxima de um momento decisivo em sua trajetória política. Na próxima terça-feira, a Primeira Turma do STF analisará a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente e outras sete pessoas por suposta tentativa de golpe de Estado. Caso a denúncia seja aceita, Bolsonaro se tornará réu, aprofundando ainda mais sua vulnerabilidade jurídica e política.
Mesmo com a ofensiva bolsonarista, ministros do STF avaliam, em caráter reservado, que a licença de Eduardo pode ser uma estratégia para preparar um eventual exílio do ex-presidente, caso o cerco se feche de forma definitiva. Em público, no entanto, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) nega qualquer possibilidade de o pai deixar o Brasil e afirma que o ex-presidente continuará “enfrentando as injustiças” no país.
Com as instituições em alerta e a base bolsonarista dividida, os próximos dias prometem aumentar a tensão entre os Poderes. No centro da tempestade, a família Bolsonaro aposta na estratégia de vitimização para tentar frear o avanço da Justiça — um movimento arriscado que, até aqui, parece esbarrar mais em obstáculos do que em apoios

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