Empresas de crédito consignado entraram na mira da PF por pagamentos milionários ligados a fraudes contra aposentados
- Marcus Modesto
- 3 de mai.
- 2 min de leitura
A Polícia Federal (PF) ampliou o escopo das investigações sobre o escândalo de descontos indevidos em benefícios previdenciários ao identificar pagamentos milionários feitos por entidades associativas a empresas do setor de crédito consignado. As transações foram reveladas após quebras de sigilo bancário e indicam uma possível conexão entre a filiação forçada de aposentados a essas entidades e a concessão de empréstimos.
A apuração foi divulgada pelo portal Metrópoles, responsável por uma série de reportagens que, desde dezembro de 2023, vêm expondo as engrenagens do esquema. Segundo a investigação, entidades como Ambec, Unsbras (atualmente Unabrasil) e Cebap firmaram contratos com empresas de crédito para estimular a filiação em massa de beneficiários do INSS. Com isso, conseguiam autorização para cobrar mensalidades diretamente da aposentadoria dos segurados, muitas vezes sem consentimento.
Mais de 6 milhões de aposentados teriam sido filiados compulsoriamente desde 2019, movimentando cerca de R$ 6,3 bilhões, segundo estimativas da PF. Em abril deste ano, a Operação Sem Desconto levou à queda do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi, após 38 reportagens do Metrópoles embasarem a ação da PF e da Controladoria-Geral da União (CGU).
Agora, o foco das investigações se volta a empresas de crédito consignado que, segundo os investigadores, lucravam diretamente com a filiação forçada. De acordo com os contratos em posse da PF, essas empresas recebiam a primeira mensalidade paga por cada novo associado, além de 30% das mensalidades seguintes.
Duas empresas concentram os maiores repasses sob investigação. A HKM, do empresário Herbert Kirstersson Menocchi — ex-gerente do banco BMG —, teria recebido parte dos R$ 15 milhões pagos pelas entidades. Um contrato obtido pela PF mostra que a HKM era responsável por instruir os vendedores de empréstimos a oferecerem a filiação às entidades como parte do pacote de contratação do crédito.
Outra empresa citada é o Balcão das Oportunidades, correspondente bancário do BMG, que recebeu ao menos R$ 5 milhões da Ambec e também mantinha contratos expressivos com a Cebap.
Além dessas, entidades como Amar Brasil (ABCB) e Master Prev também entraram no radar das autoridades. As duas possuem dirigentes com vínculos familiares com Américo Monte Filho, empresário do ramo de crédito consignado. A PF detectou que a Amar Brasil movimentou mais de R$ 320 milhões, parte deles repassados a empresas do setor.
Em nota, o advogado Conrado Gontijo, que representa Menocchi, afirmou que a HKM presta serviços lícitos e que o empresário “não tem qualquer relação com supostas irregularidades”. Já o banco BMG informou que Menocchi não integra seus quadros desde 2022 e que não tem conhecimento sobre as investigações em curso.
As autoridades seguem apurando o envolvimento de empresas e dirigentes que possam ter se beneficiado do uso indevido da estrutura do INSS para fins privados, em prejuízo direto aos aposentados. A PF deve deflagrar novas fases da operação nos próximos meses, à medida que avançam as análises de documentos e movimentações financeiras.

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