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Entre Minutas, Punhais e Batons: o Brasil no banco dos réus

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 22 de abr.
  • 2 min de leitura

Enquanto a Primeira Turma do STF amplia o cerco aos envolvidos na tentativa de golpe de Estado, o país assiste, estarrecido, à revelação de um núcleo ainda mais sombrio do bolsonarismo: aquele que teria elaborado não apenas uma minuta golpista para anular o resultado das urnas, mas também um plano de assassinato contra o presidente da República, seu vice e um ministro do Supremo. O chamado “Punhal Verde e Amarelo” transforma a escalada antidemocrática em algo que ultrapassa o campo político e adentra a esfera do terrorismo.


É impossível naturalizar o que está sendo apresentado pela Procuradoria-Geral da República. Não estamos mais falando apenas de discursos inflamados, negacionismo ou vandalismo institucional, mas de um grupo com estrutura, funções definidas e cargos estratégicos que teria deliberado sobre matar autoridades eleitas e de alta Corte para consumar um projeto de poder. E, ainda assim, há quem tente tratar esse processo como “perseguição política”.


O envolvimento de figuras como Silvinei Vasques, ex-chefe da PRF, e assessores diretos da Presidência da República evidencia que o golpismo não foi uma fantasia delirante de extremistas isolados — mas algo organizado, com objetivos claros e articulação entre diferentes esferas do Estado. A denúncia, reforçada por delações como a de Mauro Cid, ganha contornos de verossimilhança assustadores, mesmo quando a defesa insiste em relativizar os fatos: um documento de golpe que “não foi entregue”, um plano de assassinato que “não saiu do HD”, uma vigilância a Moraes feita com “dados abertos”.


Enquanto isso, no mesmo tribunal que julga os mentores e executores da ruptura democrática, uma cabeleireira segue presa após usar batom para pichar uma estátua. O contraste entre a punição exemplar de uma manifestante e a morosidade com que alguns ainda tentam sabotar o avanço dos julgamentos principais é uma mancha para a justiça brasileira. A pena de 14 anos sugerida pelo relator Alexandre de Moraes para Débora dos Santos soa desproporcional, e o próprio ministro Luiz Fux já sinalizou possível divergência. Que o tribunal saiba equilibrar a firmeza necessária para proteger a democracia com a razoabilidade exigida pelo bom senso.


Se há algo que os julgamentos desta semana deixam claro, é que o Brasil ainda está longe de virar a página do 8 de Janeiro. Os eventos não foram um ponto fora da curva, mas o ápice de um projeto continuado, que só agora começa a ser desmantelado com o devido peso institucional. Que a justiça não se renda ao revisionismo ou ao esquecimento — e que os punhais, reais ou simbólicos, não encontrem mais abrigo sob a bandeira nacional.


 
 
 

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