Entre tipoias e ameaças: Moraes, o STF e o fardo da democracia
- Marcus Modesto
- 22 de abr.
- 2 min de leitura
Alexandre de Moraes voltou à cadeira do Supremo Tribunal Federal nesta terça-feira (22), com o braço imobilizado, mas com a determinação intacta. O gesto — simbólico e literal — de seguir presidindo sessões mesmo após uma cirurgia reforça uma imagem já conhecida do ministro: a de quem se recusa a recuar diante de qualquer ataque, físico ou institucional.
Enquanto sustentava o braço com uma tipoia, sustentava também um relatório pesado: o da nova denúncia da PGR contra integrantes de um grupo acusado de planejar um golpe de Estado. Detalhes dessa denúncia fariam corar até roteiristas de thrillers políticos — um plano de assassinato de autoridades da República, incluindo o próprio Moraes, circulava nos bastidores da tentativa fracassada de ruptura democrática.
É curioso — e inquietante — notar o contraste entre o país que se distrai com o noticiário esportivo, as pautas banais e os memes, e o país que, nos bastidores do poder, ainda julga tramas golpistas dignas dos anos de chumbo. Em pleno 2025, seguimos lidando com resquícios tóxicos do extremismo alimentado entre 2018 e 2022.
O que está em julgamento na Primeira Turma do STF não é apenas o “núcleo 2” de uma organização criminosa, como define a acusação. É a tentativa de assassinar o futuro da democracia brasileira antes que ela pudesse se reerguer. O suposto “Plano Punhal Verde e Amarelo” é o nome de uma distopia travestida de patriotismo — e, como tantas vezes na história, o autoritarismo tentou se esconder atrás da bandeira.
Moraes, que virou símbolo do enfrentamento ao golpismo, agora também se torna personagem no próprio enredo investigado. A imagem do ministro, de toga e tipoia, lendo o relatório que denuncia um plano para matá-lo, parece ter saído direto das páginas de um romance político — mas é, infelizmente, o retrato real de um país ainda às voltas com seus fantasmas autoritários.
E enquanto os ministros julgam e os procuradores argumentam, cabe à sociedade civil manter a vigilância ativa. Porque democracia não se defende apenas com decisões judiciais. Se constrói, dia a dia, com memória, com verdade, e com coragem para enfrentar quem ousa ameaçá-la — de farda, terno ou gabinete.

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