Escândalo ‘Catargate’: assessores de Netanyahu são presos por ligações suspeitas com Catar
- Marcus Modesto
- 31 de mar.
- 3 min de leitura
Dois assessores do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu foram presos nesta segunda-feira (1º) sob suspeita de envolvimento em um esquema de ligações ilícitas entre o gabinete do premier e autoridades do Catar. Yonatan Urich e Eli Feldstein são investigados por crimes como contato com agente estrangeiro, recebimento de propina, fraude, quebra de confiança e lavagem de dinheiro.
As prisões ocorrem no mesmo dia em que Netanyahu ignorou uma decisão da Suprema Corte e nomeou Eli Sharvit, ex-comandante da Marinha, como novo chefe da agência de segurança interna Shin Bet. A escolha acontece duas semanas após o premier ter pedido a destituição do então chefe da agência, Ronen Bar, decisão que gerou críticas e acusações de interferência política.
Netanyahu depõe e governo nega envolvimento
O primeiro-ministro israelense foi intimado a testemunhar no caso, com autorização do procurador-geral Gali Baharav-Miara, segundo o jornal Haaretz. O depoimento de Netanyahu, realizado nesta segunda-feira, foi mais curto do que o esperado e aconteceu a portas fechadas.
A defesa do premier adotou postura reservada durante o interrogatório. O advogado Amit Hadad, que também representa Urich, deixou a sessão no Tribunal Distrital de Tel Aviv e, ao ser questionado sobre o motivo, respondeu apenas que era “uma questão profissional”.
O gabinete de Netanyahu negou qualquer envolvimento com o caso e afirmou que todas as transações financeiras do governo são feitas de forma legal e transparente.
Jornalistas também são alvos da investigação
Além dos assessores, um jornalista que trabalhou com Feldstein enquanto ele atuava como porta-voz do primeiro-ministro prestou depoimento à polícia. O interrogatório foi realizado sob suspeita de contato com agente estrangeiro e autorizado pelo Ministério Público.
Uma fonte policial afirmou ao Haaretz que outro jornalista, que teria promovido mensagens favoráveis ao Catar a pedido de Feldstein, será convocado para depor nos próximos dias.
‘Catargate’: repasses suspeitos e lobby estrangeiro
O escândalo, que ficou conhecido como “Catargate”, ganhou repercussão após a divulgação de gravações onde o empresário israelense Gil Birger admitiu ter repassado dinheiro de um lobista do Catar para Feldstein. Segundo Birger, o assessor pediu ajuda com impostos e trabalhou por meses com Jay Footlik, lobista ligado ao governo do Catar.
Os advogados de Feldstein confirmaram o recebimento de dinheiro, mas alegaram que os valores eram referentes a serviços estratégicos e de comunicação prestados ao gabinete de Netanyahu, e não ao Catar.
Relações suspeitas entre os assessores e o Catar
Reportagens do Haaretz indicam que, em 2022, antes da Copa do Mundo, Urich e o consultor político Yaki Einhorn participaram de uma campanha para melhorar a imagem do Catar no cenário internacional. A empresa Perception, pertencente a Urich, teria se associado a outra companhia israelense para promover o Catar como um agente de paz, apesar do país ser, à época, o principal financiador do grupo militante palestino Hamas. Ambos negaram envolvimento.
Já em fevereiro deste ano, o Channel 12 News revelou que Feldstein atuava simultaneamente como porta-voz de Netanyahu e como consultor de comunicação para uma empresa ligada ao governo do Catar. Ele teria intermediado contatos com jornalistas para favorecer a imagem do país durante negociações para a libertação de reféns em Gaza.
Diante das suspeitas, o procurador-geral Gali Baharav-Miara ordenou a abertura de uma investigação conjunta entre a polícia e o Shin Bet para apurar as conexões entre os conselheiros de Netanyahu e autoridades do Catar. O Shin Bet já vinha conduzindo uma revisão interna sobre a segurança de informações no gabinete do primeiro-ministro.
Catar nega acusações e fala em ‘campanha de difamação’
Um representante do governo do Catar disse ao New York Times que as acusações contra os assessores de Netanyahu fazem parte de uma “campanha de difamação” que busca prejudicar os esforços do país para mediar o fim dos ataques israelenses a Gaza.
A investigação está sendo conduzida pela unidade de Investigações de Crimes Internacionais da polícia israelense, Lahav 443. Enquanto esta é a primeira prisão de Urich, Feldstein já havia sido detido no ano passado por vazar informações confidenciais a um jornal alemão.

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