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Extinção dos jumentos no Brasil escancara conflito entre lucro e proteção animal

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 27 de jun.
  • 2 min de leitura

A iminente extinção dos jumentos no Brasil se tornou símbolo de um embate cada vez mais evidente: o confronto entre interesses econômicos globais e a proteção da fauna nacional. Com uma queda populacional de 94% nas últimas três décadas, a espécie caminha para desaparecer do território brasileiro antes de 2030, segundo a Frente Nacional de Defesa dos Jumentos.


O colapso populacional é impulsionado por um único fator: a exportação das peles do animal para atender à indústria do ejiao, na China — um produto à base de colágeno usado em cosméticos e na medicina tradicional oriental. A atividade, embora legalizada em parte do território nacional, escancara fragilidades na legislação, ausência de controle sanitário rigoroso e o completo abandono de políticas públicas voltadas à conservação.


A Bahia se tornou o principal polo de abate, com frigoríficos autorizados a exportar peles para o mercado asiático, que movimenta mais de US$ 6 bilhões por ano. O problema é que a busca por lucro imediato desconsidera tanto o bem-estar animal quanto o valor histórico e cultural do jumento, símbolo de resistência e trabalho no semiárido brasileiro.


“O Brasil está vendendo a extinção de uma espécie por pedaços de couro”, resume o professor Pierre Ecodro, da Universidade Federal de Alagoas. Em estudo recente publicado na revista Animals, ele e outros especialistas alertam que o modelo atual é insustentável e ignora completamente a saúde dos animais, muitos deles abatidos em estado de desnutrição ou inflamação severa.


O impasse se reflete também na política. Enquanto grupos ambientalistas e de proteção animal pressionam pela aprovação do Projeto de Lei 2.387/2022, que proíbe o abate de jumentos em todo o território nacional, setores ligados à exportação e ao agronegócio reagem com força. Em abril, a Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa da Bahia rejeitou uma proposta estadual semelhante, sob o argumento de que a atividade é “regulada e economicamente relevante”.


A decisão provocou protestos e abriu nova frente de debate sobre o papel do Brasil na proteção de seus animais diante da pressão de interesses internacionais. Paralelamente, o evento Jumentos do Brasil, iniciado nesta quinta-feira (26) em Maceió, reúne especialistas e organizações em busca de alternativas de preservação, como santuários, programas de reprodução e reinserção dos animais na agricultura familiar.


A pergunta que fica é: o Brasil está disposto a sacrificar um símbolo do sertão nordestino por um lucro de curto prazo? Ou será capaz de frear um modelo predatório que pode resultar em mais uma extinção silenciosa?



 
 
 

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