Fragmentação sindical e silêncio presidencial marcam o 1º de Maio de 2025
- Marcus Modesto
- 1 de mai.
- 2 min de leitura
Neste 1º de Maio, o Dia Internacional do Trabalhador no Brasil, tradicionalmente marcado por manifestações contundentes e atos de unidade sindical, foi diluído por um cenário de dispersão e ausência de liderança. A imagem de um movimento forte, coeso e protagonista de transformações sociais dá lugar a um retrato fragmentado e contraditório — onde até mesmo centrais de orientação ideológica semelhante marcham em trilhas diferentes.
A ausência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, outrora figura central nas celebrações da data, escancara o distanciamento entre governo e base sindical. Lula, que fez da pauta trabalhista um dos pilares de sua trajetória, não apareceu nem em São Paulo, nem no ABC, nem em qualquer palanque operário — um silêncio que, mesmo não declarado, soa ensurdecedor para quem ainda carrega bandeiras vermelhas e memórias do “tempo das conquistas”.
Enquanto isso, as principais centrais sindicais dividem o protagonismo. De um lado, o evento na Praça Campo de Bagatelle, apoiado por entidades como Força Sindical, UGT, CSB e CTB, aposta em sorteios e shows para atrair público — uma estratégia que beira o populismo e transforma o ato político em uma espécie de feira promocional. De outro, a CUT, que tenta resgatar a mística sindical do ABC paulista, realiza um ato à parte, num esforço de manter o tom combativo e ideológico que, ironicamente, já não ecoa como antes.
A alegação de que “não se trata de divisão, mas de estratégias distintas” soa como verniz para encobrir um fato inconveniente: o movimento sindical brasileiro, enfraquecido por reformas trabalhistas, perda de representatividade e sucessivos golpes em sua autonomia, já não consegue unificar nem suas próprias fileiras.
Se há pautas comuns — como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, o fim da jornada 6×1 e a redução da taxa de juros — falta coesão e contundência para levá-las à arena pública com força política. O risco é que essas reivindicações, ainda legítimas e urgentes, percam potência no ruído de um sindicalismo desarticulado.
A simbólica ausência do presidente, aliada à fragmentação dos atos, expõe uma crise dupla: a do sindicalismo como força de mobilização e a de um governo que, ao se omitir de seu principal espaço simbólico de apoio popular, sinaliza hesitação ou desgaste. Neste 1º de Maio, o trabalhador brasileiro não foi apenas homenageado com discursos — foi deixado à margem do protagonismo que lhe é de direito. E isso deveria acender o alerta não só nos sindicatos, mas nos gabinetes de Brasília.

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