Fraude no INSS expõe falência na fiscalização e cria fissuras políticas no governo Lula
- Marcus Modesto
- 23 de abr.
- 2 min de leitura
A operação “Sem Desconto”, deflagrada pela Polícia Federal nesta quarta-feira (23), não apenas expôs um esquema de fraudes envolvendo descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS. Escancarou, sobretudo, a fragilidade do sistema de fiscalização da máquina pública e a permissividade de um modelo de indicações políticas que insiste em ignorar critérios técnicos em prol de alianças partidárias.
O afastamento de Alessandro Stefanutto da presidência do INSS, junto com outros cinco servidores, é apenas a ponta do iceberg. Stefanutto, servidor de carreira, foi alçado ao posto por apadrinhamento político do ministro Carlos Lupi (PDT), responsável por uma indicação que, assim como a anterior — Glauco Wamburg, exonerado em 2023 —, termina mergulhada em escândalo. A reincidência nas escolhas do titular da Previdência deveria ser um alerta grave ao Palácio do Planalto, mas, até aqui, as respostas têm se limitado a gestos paliativos e discursos de ocasião.
A dimensão do prejuízo aos aposentados — vítimas de uma prática predatória, realizada por entidades supostamente representativas da categoria — torna o caso ainda mais revoltante. A confiança dos beneficiários do sistema previdenciário foi abalada, e a sensação de abandono institucional se agrava quando se percebe que o golpe vinha sendo praticado à sombra de um Estado omisso, que falhou em seu dever mais básico: proteger os mais vulneráveis.
A gravidade do escândalo obrigou a cúpula do governo a agir com pressa. O presidente Lula foi informado pessoalmente pelo diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e pelo ministro da CGU, Vinícius Carvalho. Reuniões emergenciais foram convocadas, tanto no Palácio da Alvorada quanto no Ministério da Justiça. O clima é de crise — e não apenas administrativa.
No campo político, o desgaste já começou a fermentar. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, afirmou que o partido sequer foi consultado sobre a nomeação de Stefanutto, o que revela uma rachadura na base governista e evidencia a falta de articulação interna em um tema tão sensível quanto a Previdência Social.
O governo promete uma reestruturação no comando do INSS e medidas emergenciais para reforçar a fiscalização. Mas, enquanto o foco estiver apenas na troca de nomes e não na mudança do sistema que permite tais nomeações — frequentemente mais alinhadas a interesses partidários do que à competência técnica — o risco de novos escândalos continuará à espreita.
O Brasil não pode mais aceitar que aposentados e pensionistas sejam tratados como alvos fáceis para fraudes institucionalizadas. Nem que suas dores sejam instrumentalizadas como escudo para proteger aliados políticos. A operação “Sem Desconto” revelou mais do que um esquema criminoso: revelou um Estado que precisa urgentemente rever suas prioridades.

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