Fuzis Made in USA: a engrenagem internacional que abastece o crime no Rio escancara o fracasso do controle estatal
- Marcus Modesto
- 15 de mai.
- 2 min de leitura
O tráfico de armas no Brasil já não é apenas um problema de fronteiras porosas ou portos negligentes. É uma engrenagem transnacional altamente lucrativa, conectando diretamente as prateleiras de lojas e fábricas dos Estados Unidos aos becos armados das comunidades do Rio de Janeiro. A revelação de que 60% dos fuzis apreendidos neste ano no estado são de origem norte-americana não é apenas um dado alarmante — é o retrato de um Estado acuado, incapaz de romper um ciclo que mistura impunidade, corrupção e inoperância institucional.
A Operação Contenção, deflagrada com apoio da Homeland Security norte-americana, expôs a profundidade dessa rede criminosa. Mas não se trata de um episódio isolado: é a continuidade de um modelo já exposto há anos, em casos como o de Frederick Barbieri, o “Senhor das Armas”, que desmontava fuzis em Miami e os enviava ao Galeão como se fossem peças de piscina.
O problema é muito maior do que o tráfico em si: ele representa o fracasso do Estado brasileiro em controlar seu território e sua segurança pública. O tráfico de armas não só alimenta guerras entre facções, mas sustenta o poder armado de grupos que, como o Comando Vermelho e as milícias, assumem funções de governo em territórios abandonados pelo poder público. Nessas áreas, o Estado perdeu sua soberania há tempos.
A sofisticação dos esquemas impressiona. Empresários como Eduardo Bazzana, dono de lojas de armas e presidente de clube de tiro, aparecem como “fornecedores” oficiais em planilhas do crime. O caso do empresário Jhonnatha Yanowich, preso com 16 fuzis em casa de luxo na Barra, mostra como o tráfico já opera com estrutura empresarial e financeira, usando laranjas, empresas de fachada e depósitos em dinheiro com aparência de filme de guerra: mofo, poeira e vestígios de que o dinheiro foi enterrado.
A resposta das autoridades, no entanto, continua sendo episódica. Enquanto o governador Cláudio Castro viaja aos Estados Unidos para buscar parcerias e alertar que “o Rio de Janeiro não fabrica armas”, a realidade é que o Estado também não consegue impedir que elas entrem, circulem e matem. É o drama de um sistema que prioriza o espetáculo da operação policial, mas não desmonta os esquemas logísticos, financeiros e institucionais que sustentam esse mercado.
É necessário mais do que discursos e viagens diplomáticas. O que falta é articulação real entre governos, inteligência integrada e, principalmente, vontade política para romper os interesses escusos que lucram com o caos. Enquanto o Brasil continuar tratando o tráfico de armas como uma questão periférica ou pontual, as facções continuarão rindo — bem armadas, bem financiadas e cada vez mais organizadas.




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