Glauber Braga completa três dias em greve de fome e denuncia perseguição política liderada por Arthur Lira
- Marcus Modesto
- 13 de abr.
- 3 min de leitura
Em um gesto extremo de resistência política, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) completou neste sábado (12) três dias em greve de fome, após a recomendação do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados pela cassação de seu mandato. Glauber acusa o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), de estar por trás de uma perseguição política por conta das denúncias que o parlamentar tem feito sobre o chamado “orçamento secreto”.
“Arthur Lira acabou de comprar uma casa de R$ 10 milhões de reais, que não casa com sua declaração de imposto de renda. A gente vai continuar aguentando esse manejo de bilhões de reais?”, questionou Glauber, que se mantém acampado no plenário da Câmara como forma de protesto.
O deputado friburguense tem dormido no chão do plenário, ao lado de um colchão improvisado, em protesto silencioso mas incisivo contra o que considera uma tentativa de silenciamento. Neste sábado, ele foi visto acompanhado da deputada Sâmia Bonfim (PSOL-SP), que se solidarizou com a greve e o acompanhou em um breve banho de sol ao lado de fora do Congresso.
Cassação motivada por embate político
O parecer que pede a cassação de Glauber foi motivado por um episódio ocorrido em abril de 2024, quando o deputado se envolveu em uma confusão com o youtuber Gabriel Costenaro, ligado ao MBL (Movimento Brasil Livre). Glauber afirma ter sido provocado com ofensas à memória de sua mãe, Saudade Braga, ex-prefeita de Nova Friburgo, falecida no ano passado. O episódio foi rapidamente explorado pelo partido Novo, que protocolou o pedido de cassação posteriormente acolhido por Arthur Lira e enviado ao Conselho de Ética.
Para apoiadores e parlamentares próximos, o episódio foi apenas um pretexto para tentar calar um dos deputados mais combativos do Congresso. “Glauber já havia dito que continuaria ‘até que essa injustiça acabe’, e não acredito que a liderança da Câmara dos Deputados aceite o fato de que há pessoas em greve de fome aqui e não se sente para negociar”, protestou Sâmia.
Alvo por enfrentar o sistema
Glauber Braga é um dos parlamentares que mais enfrentou o sistema de liberação de recursos por meio do orçamento secreto – prática revelada durante o governo Bolsonaro e criticada por especialistas em transparência. Graças à atuação de Glauber e de seu partido, o PSOL, o Supremo Tribunal Federal chegou a exigir mais clareza na liberação dessas verbas, o que levou a mudanças nas regras internas do Congresso.
Apesar da gravidade da situação, a solidariedade entre os parlamentares ainda é tímida. Correligionários e lideranças de esquerda têm cobrado mais apoio institucional à greve de fome de Glauber, que já provoca desgaste físico visível e que revela a gravidade da denúncia feita: a de que seu mandato está sendo caçado por denunciar um esquema bilionário que, até hoje, carece de explicações.
Enquanto isso, a Câmara divulgou uma nota oficial afirmando que manterá suporte médico e de segurança ao deputado durante o final de semana. Já Arthur Lira, em nota, tentou se distanciar do caso e alegou que o processo contra Glauber foi protocolado pelo partido Novo, não por ele.
A decisão final sobre a cassação caberá ao plenário da Câmara dos Deputados. Glauber, no entanto, segue resistindo – agora com o próprio corpo – contra o que considera mais um capítulo da tentativa de blindar os poderosos e calar as vozes que ainda ousam denunciar.

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