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Governo Enfrenta Resistência da Bancada Evangélica e Busca Estratégias de Aproximação

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 10 de fev.
  • 3 min de leitura

Política:

Com o retorno das atividades no Congresso, o governo federal enfrenta o desafio de lidar com a bancada evangélica, um dos grupos mais organizados e influentes do Legislativo. Apesar de historicamente pragmática e próxima ao Executivo, independentemente da ideologia do governo, a bancada se distanciou da atual gestão, consolidando uma postura de oposição.


O pesquisador André Ítalo, autor do livro A Bancada da Bíblia: uma história de conversões políticas, explica que os evangélicos no Congresso costumavam apoiar governos passados em pautas econômicas e institucionais, independentemente de serem de esquerda ou direita. Esse apoio tinha um viés prático: a manutenção de benefícios, como a isenção tributária para igrejas e a influência em cargos estratégicos. Entretanto, com a eleição de Jair Bolsonaro, essa relação mudou.


“Bolsonaro foi o primeiro presidente de direita a ter uma relação de afinidade ideológica com a bancada evangélica”, avalia Ítalo. Com sua saída e a volta de Lula ao Planalto, a bancada se consolidou como um dos principais focos de resistência ao governo. O desafio agora é romper essa barreira e restabelecer algum nível de diálogo.


Polarização e Dificuldades de Articulação


A bancada evangélica, embora numerosa, não é homogênea. O professor Leonardo Barreto, da Universidade de Brasília (UnB), explica que há diferentes correntes e estratégias dentro do grupo. Um dos blocos mais organizados é o ligado à Igreja Universal, que estruturou sua influência dentro do partido Republicanos. O partido ampliou sua atuação ao atrair políticos não evangélicos, estratégia que culminou na presidência da Câmara com Hugo Motta.


Contudo, esse crescimento trouxe desafios. Representantes da bancada evangélica que desejam adotar uma postura mais pragmática enfrentam pressão de uma base que se tornou ainda mais conservadora e radicalizada nos últimos anos. “A bancada se encontrou num espectro de direita que limita suas opções. A base foi politizada deliberadamente e hoje cobra fidelidade ideológica”, destaca Barreto.


Esse cenário dificulta a aproximação do governo federal, que encontra resistência em pautas morais e comportamentais defendidas pelo grupo. Mesmo em temas econômicos, onde antes havia uma disposição ao diálogo, a polarização política impôs barreiras.


Histórico de Influência e Mobilização


A presença evangélica na política não é um fenômeno recente. O primeiro deputado federal eleito com apoio de uma igreja foi o pastor Levi Tavares, em 1967. Mas foi apenas na Constituinte de 1988 que os evangélicos se organizaram politicamente sob a justificativa de enfrentar a influência da Igreja Católica, que, naquele período, estava alinhada com setores progressistas e de oposição à ditadura militar.


Desde então, a bancada cresceu e consolidou sua atuação, influenciando votações em áreas como educação, direitos civis e financiamento de igrejas. Atualmente, há cerca de 90 a 100 deputados evangélicos na Câmara e entre 10 e 15 senadores. No entanto, a chamada Frente Parlamentar Evangélica, que reúne parlamentares aliados da pauta religiosa, possui 219 deputados e 26 senadores, abrangendo políticos de diversos partidos, inclusive de centro e esquerda.


Esse número elevado permite que a frente tenha um trabalho estruturado, com reuniões semanais e estratégias de articulação dentro do Congresso. Mesmo sem uma maioria própria, a bancada evangélica exerce influência ao pautar debates e pressionar parlamentares em votações estratégicas.


Governo Tenta Reabrir Canais, Mas Encontra Obstáculos


O Planalto já ensaiou gestos para tentar reaproximar setores evangélicos, como a nomeação de representantes religiosos em cargos secundários e encontros com lideranças. No entanto, a resistência persiste, impulsionada pelo embate ideológico e pela mobilização da base evangélica contra pautas progressistas do governo.


Para alguns analistas, a saída pode estar em negociações mais pragmáticas, focadas em questões econômicas e institucionais, evitando confrontos diretos em temas de costumes. O problema é que a bancada evangélica atual já não se move apenas por interesses práticos, mas por uma visão política consolidada à direita, o que reduz as chances de um acordo com o governo Lula.


Sem uma estratégia eficaz para lidar com esse bloco, o Executivo corre o risco de enfrentar dificuldades ainda maiores no Congresso, onde já precisa negociar constantemente com partidos do chamado “centrão” para aprovar suas propostas. A bancada evangélica, antes vista como um grupo de apoio variável, agora se tornou um dos pilares da oposição, impondo desafios para qualquer tentativa de governabilidade.


Foto Lula Marques


 
 
 

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