Haddad rebate críticas, defende ajuste fiscal e afirma: “Falta honestidade intelectual com o esforço do governo”
- Marcus Modesto
- 9 de abr.
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Em uma entrevista franca à jornalista Mônica Bergamo, publicada nesta quarta-feira (9) pela Folha de S. Paulo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, abordou temas centrais da política e da economia brasileiras. Sem evitar os assuntos espinhosos, falou abertamente sobre o ajuste fiscal, a queda de popularidade do presidente Lula, os desafios na comunicação do governo, a pressão do mercado financeiro e o impacto das redes sociais no cenário político.
Haddad fez duras críticas ao que chamou de “falta de honestidade intelectual” por parte de analistas e setores do mercado que, segundo ele, ignoram os avanços fiscais promovidos pelo governo. “Estamos em uma situação muito melhor do que já estivemos”, disse o ministro, ao defender o esforço da equipe econômica para equilibrar as contas públicas. “O mercado previa déficit de 0,8% do PIB em 2024, e nós performamos 0,1%, próximo do centro da meta”, afirmou.
Gastos e reformas estruturais
Sobre os gastos públicos, Haddad disse que várias medidas estruturais já foram encaminhadas, muitas com impacto direto na organização das contas. Citou mudanças constitucionais, ajustes no salário mínimo, no abono e no Fundeb como ações que comprovam o compromisso com a responsabilidade fiscal.
Ele também lembrou que, diferente de governos anteriores, a atual gestão optou por não judicializar questões como o pagamento de precatórios, enfrentando os desafios com responsabilidade. “Optamos por não empurrar o pepino”, resumiu.
Críticas ao mercado e à mídia
O ministro não poupou críticas à relação conflituosa entre o governo e o mercado financeiro, acusando parte dos analistas de manterem previsões sistematicamente negativas e pouco fundamentadas. Também rebateu a imprensa tradicional, acusando-a de defender, ao mesmo tempo, o equilíbrio das contas públicas e seus próprios interesses, como no caso da desoneração da folha.
Popularidade e comunicação
Sobre a queda de popularidade do presidente Lula, Haddad apontou que o fenômeno não é exclusivo do Brasil e que a economia, embora ainda influente, deixou de ser o fator decisivo em eleições, citando os exemplos de Emmanuel Macron, na França, e Joe Biden, nos Estados Unidos. “É um outro mundo. A ascensão da extrema direita e a manipulação por redes sociais criaram um novo ambiente político”, analisou.
O ministro reconheceu que há um desafio no campo da comunicação. “É um problema de posicionamento comunicativo, não de posicionamento ideológico”, disse, afirmando que o governo ainda tem tempo para reencontrar o eixo e se reposicionar até as eleições de 2026.
Pix, fake news e redes sociais
Haddad também comentou a polêmica em torno do Pix, admitindo que, mesmo com a imprensa esclarecendo a questão, a narrativa negativa se espalhou nas redes sociais. Ele denunciou o uso político das plataformas digitais por grupos extremistas, que, segundo ele, operam com mentiras sob o pretexto de liberdade de expressão. “Você fala toda e qualquer mentira que vier à cabeça, impunemente”, lamentou.
Eleições 2026 e resistência à extrema direita
Questionado sobre o clima político para 2026, Haddad demonstrou confiança na competitividade de Lula, apesar das dificuldades. Destacou a resistência que a extrema direita ainda enfrenta, mesmo com sua base autoritária, enraizada na história brasileira. “O integralismo nos anos 1930 tinha dois milhões de simpatizantes. Nossa democracia é recente. Essa força não é nova, mas resistiremos”, afirmou.
Em um momento em que o governo tenta recuperar o controle narrativo e manter o equilíbrio fiscal, a entrevista de Haddad reforça a disposição do Planalto em enfrentar as críticas e reafirmar seu compromisso com a estabilidade econômica e a democracia.

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