Hugo Motta tenta posar de conciliador, mas mantém Congresso como centro de barganha fiscal
- Marcus Modesto
- 5 de jul.
- 2 min de leitura
Em meio à crise gerada pelo aumento do IOF, suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), tenta agora se apresentar como articulador de uma solução “negociada”. Em entrevista à CNN, Motta falou em cortes de emendas parlamentares e revisão de isenções fiscais, mas sem abrir mão do verdadeiro centro da polêmica: o poder de barganha do Congresso sobre o Orçamento e a política fiscal do país.
A narrativa de Motta gira em torno da ideia de conciliação, mas na prática, sua postura evidencia o jogo duplo que se tornou marca da atual legislatura. Ao mesmo tempo em que condena o aumento do IOF — uma tentativa do Executivo de ampliar a arrecadação — o presidente da Câmara não esconde que qualquer solução dependerá de quanto o Parlamento estará disposto a ceder… e a receber.
Enquanto o STF tenta impor algum limite à escalada fiscal desenfreada — marcada por decretos que elevam tributos sem debate amplo —, Motta responde com a velha fórmula da “negociação”: mexer um pouco nas emendas, discutir isenções e fazer parecer que tudo está sendo feito com espírito público. Mas, no fundo, o que está em jogo é a manutenção do Congresso como protagonista de uma estrutura que utiliza o orçamento público como moeda de troca política.
A fala de que “não defende um Congresso intocável” soa mais como tentativa de blindagem retórica do que como autocrítica real. Motta tem sido um dos principais fiadores do modelo de emendas de relator — agora reembalado em outras formas de repasses bilionários para parlamentares — que concentram poder nas mãos da cúpula legislativa, com pouca transparência e controle social.
Ao comentar as críticas nas redes sociais, Motta ainda buscou desviar o foco: “Se houve ataque, que seja na política, isso não me incomoda”. O problema é que o debate vai muito além de “ataques”. O que a sociedade questiona é o grau de autonomia e influência que o Congresso passou a exercer sobre a política econômica, muitas vezes à revelia do interesse público e em detrimento da governabilidade.
Diante de um país que amarga déficits crônicos, crescimento anêmico e um sistema tributário desigual, o presidente da Câmara poderia aproveitar o momento para liderar uma verdadeira reforma fiscal, com transparência e justiça social. Mas, por enquanto, prefere manter o jogo de cena. Afinal, enquanto houver emendas, há poder. E enquanto o Congresso seguir controlando os cordões da bolsa, qualquer aumento de imposto — justo ou não — será apenas mais uma peça no tabuleiro da velha política.

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