Hugo Motta: Tentativa de Minimizar os Atos de 8 de Janeiro e Dúvidas sobre a Justiça
- Marcus Modesto
- 7 de fev.
- 2 min de leitura
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ao minimizar os atos de 8 de janeiro e defendendo que não configuraram uma tentativa de golpe, revela uma visão perigosa sobre a gravidade dos acontecimentos e o impacto de sua fala. Sua afirmação de que um golpe requer “um líder” e apoio das Forças Armadas, além da redução dos atos a “vândalos” e “baderneiros”, ignora o contexto mais amplo das ações e sua tentativa de desestabilizar a democracia. As invasões às sedes dos Três Poderes não podem ser tratadas com tamanha superficialidade. Foram atos orquestrados por grupos radicalizados, com a intenção clara de fragilizar as instituições e o processo democrático, independente de uma figura central que fosse “o líder” de um golpe clássico. Ao desqualificar os responsáveis como simples “revoltados”, Motta contribui para a trivialização de um dos maiores atentados à democracia recente.
A crítica às sentenças aplicadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) também reflete uma tentativa de descredibilizar a atuação da Justiça, sugerindo que a punição a todos os envolvidos não tem equilíbrio. Motta questiona a pena de 17 anos para uma mulher que, segundo ele, não teria causado danos diretos, mas parece ignorar que as consequências de um ataque às instituições democráticas não podem ser vistas de forma isolada. Mesmo sem ação direta de depredação, a participação em um evento dessa magnitude é, por si só, uma afronta ao Estado de Direito. A responsabilização não pode ser feita apenas com base na gravidade imediata dos atos, mas deve ser considerada a repercussão desses atos para a estabilidade do país.
Ademais, sua fala sobre o projeto de anistia, que tramita no Congresso, demonstra um claro jogo político. Ao afirmar que a anistia não pode ser tratada sem “responsabilidade”, Motta, mais uma vez, deixa claro que o interesse por uma solução rápida e sem confrontos com o STF pode estar mais voltado a questões políticas do que à preservação da ordem jurídica. A omissão que ele sugere em relação à condução do tema “anistia” reforça a ideia de que, ao invés de se posicionar firmemente contra a impunidade, o presidente da Câmara busca manter um diálogo conveniente com diferentes espectros políticos, sem se comprometer com princípios inegociáveis da justiça.
Por fim, Motta também toca na questão econômica, cobrando uma revisão nos gastos do governo. Contudo, sua postura tem sido a de um político que, ao invés de focar na construção de consensos em temas tão delicados quanto a preservação da democracia, prefere navegar nas águas turvas de interesses eleitorais e disputas partidárias. O custo dessa postura é alto para a credibilidade das instituições e para a confiança do povo nas garantias democráticas.

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