Impasse entre países africanos trava apoio a pleito do Brasil no Conselho de Segurança da ONU durante reunião do Brics
- Marcus Modesto
- 29 de abr.
- 2 min de leitura
A reunião dos chanceleres do Brics, realizada no Rio de Janeiro nesta semana, terminou sem uma declaração conjunta devido a um impasse diplomático envolvendo países africanos do bloco. A divergência girou em torno da proposta brasileira de incluir, no documento final, uma referência direta à sua aspiração de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
Segundo informações da Folha de S.Paulo, a sugestão, que reiteraria um posicionamento adotado em 2023, foi barrada principalmente por Egito e Etiópia. Ambos os países demonstraram desconforto com a ênfase nas ambições dos membros fundadores — como Brasil, Índia e África do Sul — enquanto os novos integrantes, admitidos na expansão do Brics em 2023, ainda consolidam seu espaço dentro do grupo.
O centro da resistência africana foi o receio de que qualquer destaque individual às pretensões sul-africanas ferisse o chamado “Consenso de Ezulwini” — documento da União Africana que defende uma posição comum do continente africano nas negociações sobre a reforma do sistema da ONU.
Diante da falta de consenso, o governo brasileiro divulgou nesta terça-feira (29) uma declaração unilateral da Presidência do Brics — posição ocupada pelo Brasil neste ano. Embora tenha valor diplomático, o texto tem peso reduzido em comparação a uma declaração conjunta e explicitou a objeção dos egípcios e etíopes à proposta brasileira.
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, minimizou o impasse. “Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país, cada grupo de país, tem compromissos e posições assumidos”, afirmou. Segundo ele, o foco agora será a busca por uma linguagem consensual a ser apresentada na cúpula de líderes do Brics, prevista para julho.
Na tentativa de reverter a situação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a enviar uma carta pessoal ao presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi, mas a medida não foi suficiente para mudar a posição do país árabe.
Criado em 2009, o Brics é formado por Brasil, Rússia, Índia, China e, desde 2010, África do Sul. A ampliação promovida em 2023 incluiu Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos — um movimento impulsionado por China e Rússia, mas que provocou receios no Itamaraty quanto à possível diluição da influência brasileira dentro do bloco.
Com a fragmentação de interesses entre os antigos e novos membros, o episódio no Rio de Janeiro revela os desafios do Brasil em manter protagonismo no Brics e, ao mesmo tempo, viabilizar seu projeto de maior inserção internacional. A diplomacia brasileira agora corre contra o tempo para costurar acordos que evitem um novo constrangimento na cúpula de julho.

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