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INSS garantiu lisura antes de escândalo bilionário: fraude atinge 9 milhões de beneficiários e causa abalo político

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 10 de mai.
  • 2 min de leitura

Menos de um mês antes de a Polícia Federal deflagrar a Operação Sem Desconto, o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, assegurava ao Congresso que não havia indícios de fraudes nos descontos aplicados a benefícios previdenciários. A afirmação, feita em resposta formal a questionamentos de parlamentares, hoje soa como um retrato de cegueira institucional — ou conivência silenciosa — diante de um esquema que já se alastrava sob a estrutura do órgão.


Em abril, a operação revelou um rombo de proporções bilionárias: cerca de R$ 8 bilhões em prejuízos aos cofres públicos e mais de 9 milhões de beneficiários lesados por descontos indevidos. O golpe consistia em valores descontados dos benefícios mensais, supostamente por serviços prestados por sindicatos e associações, sem qualquer autorização ou conhecimento prévio dos segurados.


A engrenagem da fraude foi sustentada por acordos de cooperação técnica firmados entre o INSS e essas entidades. Na prática, o que deveria ser controle virou brecha: os beneficiários não eram consultados, e os descontos passavam direto pela folha de pagamentos. O sistema funcionava como um pedágio invisível cobrado sobre a aposentadoria de milhões de brasileiros.


A Polícia Federal cumpriu 211 mandados de busca e apreensão em 13 estados e no Distrito Federal, além de seis mandados de prisão temporária. O volume de recursos movimentados impressiona: 141 joias, mais de 60 carros de luxo e R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo foram apreendidos — um retrato claro do enriquecimento ilícito que prosperou sob o silêncio institucional.


No centro da operação está Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, apontado como lobista e articulador dos acordos com entidades como a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec) e o Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos). Com trânsito livre entre o poder público e os interesses privados, ele teria sido peça-chave na legalização das fraudes.


A crise tem desdobramentos políticos diretos. Embora aliados do atual governo apontem a gestão anterior (2019–2022) como responsável pela proliferação dos convênios, a pressão recaiu sobre o ministro da Previdência, Carlos Lupi. Ele deixou o cargo no último dia 2 de maio, após admitir ter recebido alertas sobre irregularidades, embora alegue não ter tido conhecimento direto dos contratos. Sua saída é vista por muitos como um esforço do governo para conter os danos da repercussão.


Outro ponto alarmante da investigação foi a constatação de que, mesmo após a Dataprev instituir, em 2024, a exigência de biometria facial para autorizar novos descontos, a direção do INSS flexibilizou esse controle — permitindo que a fraude continuasse, mesmo sob novas regras de segurança.


O escândalo revela mais do que um esquema de corrupção: expõe um Estado frágil, capturado por interesses obscuros e incapaz de proteger seus próprios segurados. Enquanto milhões de aposentados viam seus benefícios encolherem sem explicação, outros ostentavam joias, carrões e milhões em espécie.


O rombo financeiro pode ser mensurado. O dano à confiança dos brasileiros no sistema, não.




 
 
 

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