Interceptações revelam que chefão do Comando Vermelho recebia informações privilegiadas de dentro da PM
- Marcus Modesto
- 3 de mai.
- 2 min de leitura
Interceptações telefônicas realizadas pela Polícia Federal no âmbito da Operação Dakovo revelaram que Phillip da Silva Gregório, conhecido como “Professor” e apontado como um dos principais líderes do Comando Vermelho, recebia informações privilegiadas sobre operações policiais no Rio de Janeiro. As informações, reveladas com exclusividade pelo portal g1, indicam que o traficante era avisado com antecedência sobre ações do Bope, Batalhão de Choque e da Polícia Civil, mesmo em comunidades controladas por facções rivais.
Em uma das conversas captadas às 3h da madrugada de 25 de outubro de 2021, um criminoso identificado como “Lorão Galinha”, chefe do tráfico no Chapadão, alerta Professor sobre uma grande operação em curso. “Vai ser operação grande”, diz Lorão, sem saber ao certo o alvo. Professor responde confirmando a informação e aponta que a Polícia Civil também participaria da ofensiva, possivelmente voltada contra milicianos. Horas depois, uma operação de fato foi deflagrada no Complexo de Israel, em Vigário Geral — território controlado pelo Terceiro Comando Puro (TCP), rival do CV.
A apuração revelou ainda um esquema de corrupção envolvendo pagamento de propinas a policiais militares por parte de Professor, com o objetivo de proteger áreas dominadas pelo Comando Vermelho. Em alguns casos, o traficante demonstrava frustração ao ver operações acontecendo mesmo após os pagamentos acertados. Em fevereiro de 2022, após a apreensão de armas e drogas, Professor chegou a enviar fotos de dois policiais envolvidos à facção, cobrando explicações. A resposta de um contato, identificado como “Ctt Pr”, indicava que até oficiais de alta patente estariam cientes: “Valeu mano, deixou forte. Coronel do 3 agradeceu”, escreveu, em referência ao 3º BPM (Méier), que atua em territórios controlados pelo CV.
A operação Dakovo, responsável por expor o esquema, recebeu esse nome em alusão à cidade croata onde traficantes brasileiros legalmente adquiriam armas. Os armamentos eram então enviados a Ciudad del Este, no Paraguai, e distribuídos a facções no Rio de Janeiro e São Paulo — com Professor atuando como um dos principais compradores.
As revelações escancaram a profundidade da infiltração do crime organizado dentro das forças de segurança e colocam em xeque a efetividade das ações policiais em áreas conflagradas. A Polícia Federal segue aprofundando as investigações, que podem atingir agentes públicos de alto escalão envolvidos com o tráfico.

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