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Investigação do MPDFT já revelava fraude bilionária no INSS antes da Operação Sem Desconto

  • Foto do escritor: Marcus Modesto
    Marcus Modesto
  • 14 de mai.
  • 3 min de leitura

Antes da crise atingir o noticiário nacional e provocar a queda da cúpula da Previdência, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) já havia levantado os bastidores do maior escândalo recente envolvendo descontos ilegais em aposentadorias. A apuração, iniciada entre 2020 e 2021, apontou a existência de uma rede de fraudes estruturada com contratos simulados, empresas de fachada e falsificação de documentos para autorizar, sem consentimento, descontos diretos nos benefícios pagos pelo INSS.


No centro da investigação está a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), sediada em Brasília. A entidade foi identificada como beneficiária de transferências milionárias, realizadas diretamente a partir do contracheque de aposentados e pensionistas, sob a justificativa de contribuições associativas. O esquema operava com a ajuda de terceirizadas, que criavam filiações fantasmas e manipulavam dados para burlar os sistemas do INSS.


Contratos, PDFs forjados e endereços fantasmas


A Conafer firmou um Termo de Cooperação Técnica com o INSS que permitia descontos em folha para associados. Para justificar a captação, contratou a empresa Target Pesquisa de Mercado por R$ 750 mil, sob o argumento de coletar fichas de adesão em vários estados. Segundo os promotores, no entanto, os documentos eram forjados. A execução das tarefas foi repassada à Premiar Recursos Humanos, apontada como responsável direta pela falsificação dos dados.


Depoimentos colhidos ao longo da investigação revelam que a Premiar utilizava arquivos em PDF manipulados digitalmente. Um ex-funcionário confessou que nomes, CPFs, datas e até assinaturas eram inseridos de forma artificial para atender aos critérios técnicos exigidos pelo INSS. A manipulação documental foi confirmada por outro representante da empresa, que também relatou ter recebido ameaças após se desligar da função, o que o motivou a colaborar com as autoridades.


Descontos em nome de mortos e sem consentimento


Mesmo diante dos alertas e da inconsistência nos documentos apresentados pela Conafer — que incluíam CPFs de pessoas falecidas, assinaturas ilegíveis e dados incompletos — os repasses não foram interrompidos de imediato. Em 2021, mesmo com o parecer negativo do MPDFT, o então presidente do INSS, Leonardo Rolim, autorizou a manutenção dos pagamentos à entidade.


Casos concretos evidenciam a dimensão da fraude. Uma aposentada, por exemplo, teve R$ 72,83 descontados sem jamais ter assinado qualquer autorização. Outro beneficiário, que vive há anos no exterior, foi registrado como associado ativo da entidade.


Lucros milionários e estrutura mínima


Apesar de movimentar milhões, a Conafer operava com estrutura enxuta. Na sede, localizada no Setor Comercial Sul, em Brasília, apenas dois funcionários atendiam. Ao ser questionada pela reportagem sobre os descontos indevidos, uma funcionária limitou-se a dizer que os casos “só podem ser resolvidos diretamente com os beneficiários”.


Durante as investigações, o MPDFT constatou que o presidente da Conafer, Carlos Roberto Ferreira Lopes, abriu com a esposa uma empresa de capital social de R$ 3 milhões no mesmo período em que os registros fraudulentos explodiram. O irmão dele, Tiago Lopes, também teve evolução patrimonial incompatível com os rendimentos declarados.


Alerta ignorado, fraude exposta tardiamente


Embora a fraude só tenha ganhado repercussão nacional com a deflagração da Operação Sem Desconto — após revelações da imprensa e da atuação da Polícia Federal e da CGU —, a promotoria do DF já apontava, desde 2021, indícios de um esquema sistêmico envolvendo associações e o INSS.


A apuração local reuniu documentos falsificados, contratos suspeitos, movimentações financeiras atípicas e relatos de vítimas. A engrenagem, no entanto, só começou a desmoronar quando o caso veio à tona, pressionando autoridades federais a agir.


Agora, com a operação em curso, contratos suspensos e a cúpula da Previdência desmontada, o país se depara com as consequências de um alerta ignorado — e de uma fraude que drenou milhões dos aposentados mais vulneráveis.




 
 
 

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