Investigação revela esquema de transporte de dinheiro e armas que financiava expansão do Comando Vermelho no Rio
- Marcus Modesto
- 16 de mai.
- 3 min de leitura
Uma operação da 60ª Delegacia de Polícia (Campos Elísios) desmontou um esquema clandestino que abastecia financeiramente a estrutura do Comando Vermelho na capital fluminense. Segundo a Polícia Civil e informações divulgadas pelo jornal Extra, o grupo criminoso utilizava taxistas e mototaxistas como “carros-fortes humanos” para movimentar grandes quantias em dinheiro vivo e armamentos por diferentes regiões do Rio de Janeiro, tudo com aparência de normalidade para driblar a fiscalização.
Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça revelaram que Luiz Carlos Bandera Rodrigues, conhecido como “Zeus” ou “Da Roça” — apontado como chefe do tráfico na Muzema, Zona Oeste — articulava pessoalmente as remessas de recursos. Em uma das conversas, o criminoso trata do envio de R$ 450 mil em espécie, que deveria sair do Complexo do Alemão rumo a outro destino, sem chamar atenção.
“Não posso mandar sair com R$ 450 mil de dentro da favela por qualquer um não. Tem que ser da nossa confiança”, escreveu Da Roça em mensagem obtida pela polícia.
Planilhas, grupos de mensagens e logística profissional
As investigações revelaram um nível de organização logística incomum no crime. Da Roça mantinha planilhas de controle de gastos com armamentos e chegou a criar um grupo de mensagens batizado de “Amigos do Transporte”, onde coordenava o envio de dinheiro e armas por meio de motoristas de confiança.
Além dos táxis, mototaxistas também eram utilizados para rotas mais discretas, inclusive no transporte de fuzis. Em um dos áudios interceptados, um interlocutor garante que o transporte para a favela da Rocinha, na Zona Sul, seria feito com facilidade, pois o armamento seria desmontado antes do trajeto final.
Luxo e lavagem de dinheiro em condomínio na Barra
Paralelamente, a polícia investiga possível lavagem de dinheiro ligada ao Comando Vermelho por meio de transações de alto padrão. Jhonnatha Schimitd Yanowich, preso em São Paulo, seria um dos responsáveis por movimentar e ocultar recursos do tráfico em imóveis e obras de arte. Ele foi detido por porte ilegal de armas e é investigado por movimentações suspeitas que envolvem somas milionárias.
Em sua mansão no condomínio Novo Leblon, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, policiais encontraram 16 fuzis, 20 pistolas, grande quantidade de dólares e dois relógios de luxo avaliados em R$ 2,5 milhões, incluindo um modelo cravejado de diamantes. A casa, com 1.300 m², elevador, boate privativa e sistema de bloqueio de sinal de celular, era usada para festas exclusivas e, segundo os investigadores, servia como ponto estratégico de operações financeiras ilícitas.
Durante nova vistoria no imóvel, foi localizado um caminhão com obras de arte de alto valor, que foram apreendidas e serão periciadas para confirmar autenticidade e estimar o valor de mercado.
Ligação com a família Boghici e movimentações de R$ 18 milhões
A investigação também aponta ligações de Yanowich com o universo das artes. De acordo com apuração do RJ2, ele recebeu três depósitos que somam R$ 18 milhões da colecionadora Geneviève Boghici, viúva do renomado marchand Jean Boghici, entre abril e maio de 2021. O investigado alega que o valor seria referente a uma comissão de 10% sobre a venda de uma obra para uma cliente argentina, mas não apresentou qualquer documento que comprove a operação.
Geneviève e sua filha, Sabine Boghici, protagonizaram um escândalo de repercussão internacional recentemente, quando a mãe acusou a filha de aplicar um golpe milionário e furtar parte do acervo do pai. Sabine foi presa, mas faleceu antes do julgamento.
Mercado de arte e setor imobiliário na mira da polícia
A Polícia Civil ainda não concluiu o inquérito, mas acredita que o crime organizado vem se infiltrando em setores de alto valor agregado, como o mercado imobiliário de luxo e o comércio de obras de arte, como forma de lavar dinheiro do tráfico.
Até o momento, a reportagem não obteve resposta das defesas dos envolvidos. A investigação continua e pode expor uma rede ainda maior de conexões entre o narcotráfico, o sistema financeiro informal e os bastidores da elite carioca.

Comments