Israel intercepta barco com ativistas e expõe cerco implacável a Gaza
- Marcus Modesto
- há 4 dias
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A interceptação do veleiro Madleen, neste domingo (8), por forças navais de Israel, escancara mais uma vez o endurecimento do bloqueio à Faixa de Gaza e o tratamento hostil a iniciativas pacíficas de solidariedade internacional. A embarcação, que transportava ajuda humanitária simbólica e ativistas reconhecidos mundialmente — entre eles a sueca Greta Thunberg, a eurodeputada francesa Rima Hassan e o brasileiro Thiago Ávila — foi cercada nas imediações da costa egípcia e forçada a seguir para território israelense.
Apesar do caráter não violento da missão, que levava arroz, leite infantil e medicamentos, a resposta israelense foi militarizada e carregada de deboche. O Ministério das Relações Exteriores de Israel classificou o barco como um “iate de selfies” e tratou os ocupantes como “celebridades úteis à propaganda do Hamas”. A fala do ministro da Defesa, Yoav Gallant, foi ainda mais agressiva, ao chamar Greta Thunberg de “antissemita” e acusar os ativistas de servirem como “porta-vozes do Hamas”.
Trata-se de uma inversão perigosa de valores: enquanto o mundo assiste a uma das mais graves crises humanitárias do século, com mais de 54 mil mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde local, qualquer tentativa de denúncia ou socorro é imediatamente taxada de ameaça. O bloqueio naval imposto desde 2007 — e considerado desproporcional por diversas organizações internacionais — tem impedido não apenas o transporte de armas, mas também a entrada de alimentos, água potável, medicamentos e combustível. Hoje, mais de 2 milhões de palestinos vivem sob fome extrema, sem acesso a serviços básicos.
O episódio com o Madleen lembra outras ações semelhantes, como a interceptação da flotilha Mavi Marmara em 2010, que terminou com nove ativistas mortos após intervenção militar israelense. Embora o cenário atual envolva menos violência direta, o recado diplomático e militar é o mesmo: Gaza está sitiada e qualquer gesto de solidariedade internacional será tratado como provocação.
A Coalizão da Flotilha da Liberdade, responsável pela missão, já afirmou que pretende organizar novas iniciativas para romper o silêncio em torno do massacre palestino. “Levamos arroz e remédios, não mísseis. Nosso crime foi levar dignidade e visibilidade a uma população que o mundo prefere ignorar”, declarou a organização em nota oficial.
Enquanto isso, a ONU e outras entidades humanitárias alertam que o tempo está se esgotando. O que ocorre hoje em Gaza já extrapola o conceito de conflito e entra na esfera do colapso civilizacional — em que cercar civis famintos é política de Estado, e interceptar barcos com fórmulas infantis vira estratégia de guerra.
A pergunta que resta não é se haverá novas tentativas como a do Madleen, mas por quanto tempo o mundo seguirá aceitando que atos de compaixão sejam tratados como ameaças armadas.

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