Ligação de Bolsonaro para Mourão antes de depoimento no STF levanta suspeitas de interferência no inquérito do golpe
- Marcus Modesto
- 28 de mai.
- 2 min de leitura
A tentativa do ex-presidente Jair Bolsonaro de influenciar o depoimento do senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) acendeu um novo alerta dentro do Supremo Tribunal Federal (STF) e no meio jurídico. A ligação feita dias antes da oitiva de Mourão, que é testemunha no inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado, já é tratada por magistrados e juristas como um movimento que pode ser interpretado como obstrução de Justiça.
De acordo com informações reveladas pela coluna de Igor Gadelha, do Metrópoles, Bolsonaro não apenas entrou em contato com Mourão, como fez um pedido claro: que ele reforçasse pontos considerados cruciais para sua defesa. A revelação, feita pelo próprio senador, causou forte reação nos bastidores do STF.
Para ministros da Corte e especialistas ouvidos pela imprensa, quando um investigado tenta orientar uma testemunha que será ouvida pela Justiça, isso ultrapassa os limites do direito de defesa e toca diretamente no campo da interferência ilegal no processo.
Bolsonaro é investigado por tramar, junto a militares e aliados, um plano para anular as eleições e impedir a posse do presidente Lula. No entendimento de parte do meio jurídico, o telefonema é mais uma peça que se encaixa no padrão de comportamento do ex-presidente, que ao longo dos últimos anos flertou abertamente com a desinformação, o ataque às instituições e a tentativa de corroer o funcionamento das estruturas democráticas.
Do lado da defesa, aliados de Bolsonaro tentam desqualificar o episódio. Alegam que não houve crime, que conversar com testemunhas indicadas faz parte da estratégia de defesa e que não se tratou de tentativa de influenciar ou distorcer fatos.
O fato é que o episódio não passou despercebido. Ele será, inevitavelmente, incorporado à análise do STF e da Polícia Federal, que já identificam na investigação uma sofisticada organização com ramificações no alto escalão militar e político, que operava para sabotar o resultado das urnas.
O depoimento de Mourão ocorreu na última sexta-feira (23), quando o senador foi chamado a responder como testemunha não só de Bolsonaro, mas também dos generais Augusto Heleno, Braga Netto e Paulo Sérgio Nogueira, todos sob suspeita no inquérito que apura a trama golpista.
O gesto de Bolsonaro pode acabar reforçando sua condição de réu em potencial, não apenas pelo conteúdo da investigação, mas agora também por sua conduta durante a tramitação do próprio processo.

Comments